Neste soneto em
disposição distinta da convencional, o poeta escocês, sem fazer menção
explícita às entidades da mitologia greco-romana, alude aos deuses que, nela,
seriam responsáveis pelo amor, quais sejam, Eros/Cupido – retratado como um
infante cego –, e Afrodite/Vênus – que teria nascido da espuma do mar, tal como
na representação clássica de Sandro Botticelli, na Galeria dos Ofícios
(Galleria degli Uffizi), em Florença (IT).
Como se pode notar pelo texto do
original, o poema amalgama mitologia clássica com idioma diferenciado pelo
tempo e lugar – decerto como falado à época em que concebido –, dedicando-se a
discorrer graciosamente sobre a “loucura” do amor, tendo merecido o seguinte
escólio de Ezra Pound em seu “ABC da Literatura” (POUND, 2013, p. 125): “Creio
ser este o mais belo soneto da língua; pelo menos, tem um voto nesse sentido”.
Fra bank to bank, fra wood to wood I
rin
Fra bank to bank, fra wood to wood I
rin,
Ourhailit with my feeble fantasie;
Like til a leaf that fallis from a
tree,
Or til a reed ourblawin with the win.
Twa gods guides me: the ane of tham is
blin,
Yea and a bairn brocht up in vanitie;
The next a wife ingenrit of the sea,
And lichter nor a dauphin with her fin.
Unhappy is the man for evermair
That tills the sand and sawis in the
air;
But twice unhappier is he, I lairn,
That feidis in his hairt a mad desire,
And follows on a woman throw the fire,
Led
by a blind and teachit by a bairn.
De areia a areia, selva a selva eu ando
De areia a areia, selva a selva eu
ando,
Presa da minha frágil fantasia,
Como o vime que o vento vai dobrando
Ou a folha a vogar na ventania.
Um cego pela mão me está levando,
Que uma criança fútil tem por guia
E uma mulher esguia atrai, nadando,
Nada do mar, mais ágil que uma enguia.
Triste de quem, a vida toda a arar,
Só ara a areia e semeia no ar.
Porém mais triste é aquele que se lança,
Movido pelo ímã do mal amar.
No fogo, atrás de uma mulher de mar,
Guiado
por um cego e uma criança.
Referência:
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