No país do poeta, maio representa um estágio em meio à primavera, rumo
ao estio do verão, quando as férias tépidas arregimentam muitas festividades. Trata-se,
portanto, de um mês cheio de brotos de flores a romper, à medida que a natureza
se prepara para uma temporada mais seca.
Contudo, a que Coppée mais alude em seu poema é o lilás, de fragrância
marcante – associado ao hálito de sua amada –, cujas flores perpassam-lhe o
olhar. E nem se diga que ele simboliza espiritualidade e inocência, a poesia em
estado puro, justamente no quartel em que as mães são homenageadas.
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Mai
Depuis un mois, chère
exilée,
Loin de mes yeux tu
t’en allas,
Et j’ai vu fleurir
les lilas
Avec ma peine
inconsolée.
Seul, je fuis ce ciel
clair et beau
Dont l’ardente
effluve me trouble,
Car l’horreur de
l’exil se double
De la splendeur du
renouveau.
En vain j’entends
contre les vitres,
Dans la chambre où je
m’enfermai,
Les premiers insectes
de Mai
Heurter leurs
maladroits élytres;
En vain le soleil a
souri;
Au printemps je ferme
ma porte
Et veux seulement
qu’on m’apporte
Un rameau de lilas
fleuri;
Car l’amour dont mon
âme est pleine
Retrouve, parmi ses
douleurs,
Ton regard dans ces
chères fleurs
Et dans leur parfum
ton haleine.
Campos de tulipas:
no que os sonhos podem resultar
(Jane Small: pintora
inglesa)
Maio
Há um mês foste-te
embora;
E eu sofro de ti
distante,
Embalde viceja agora
O lilás fresco e
odorante.
A sós, fujo ao claro brilho
Deste céu, que me
exaspera,
Pois aumenta o horror
do exílio
O esplendor da
primavera.
Contra os vidros
transparentes
Da alcova de onde não
saio,
Batendo as asas
trementes,
Ouço os insetos de
maio.
Do sol ao rútilo
beijo
Cerro o lábio,
desgostoso,
E só, do lilás desejo
O úmido ramo
cheiroso;
Pois, em meio às suas
dores,
Do lilás, minh’alma,
em ânsia,
Vê teus olhares – nas
flores,
Teu hálito – na fragrância.
(9 de maio de 1881)
Nota de Múcio Leão:
Esta poesia faz parte das “Sinfonias”
[Raimundo Correia, 1883]. Deslocamo-la para aqui com o intuito de não deixarmos
desfalcada a série dos doze trabalhos, que formam a coleção de Coppée,
traduzida por Valentim Magalhães e Raimundo Correia. O mesmo sucede com a
poesia referente a “Dezembro”, que, também, pertence à coletânea das “Sinfonias”.
Referência:
COPPÉE, François. Mai / Maio. Tradução
de Raimundo Correia. In: __________.
Poesias completas de Raimundo Correia.
Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora
Nacional, 1948. Em francês: p. 451-452; em
português: p. 376-377.
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Vim até aqui procurando noticias do Celso Paciornik e amei a publicação do seu poema. grato, queria ter acesso a outras publicações. abraços, o celso faleceu hoje.
ResponderExcluirPrezado Rubens:
ExcluirUma pena que o poeta e tradutor tenha falecido, tanto mais em razão da clareza de posições que assumia em tudo o que levava à frente. O poema a que você teve acesso, extraí-o do único livro que possuo do autor. Assim que o encontrar, procurarei fazer novas postagens.
Um abraço,
J. A. Rodrigues
Prezado Senhores, boa noite!
ResponderExcluirPretendo adquirir o volume de poemas de Francois Coppée, que tem o poema "Um Evangelho", obviamente, devidamente traduzido para o idioma português.
Descreve Jesus em companhia de Pedro indo à cidade de Nazaré, quando contemplam uma viúva sentada à soleira de um casebre e ela deixa o filho para socorrer um pobre velho transportando um pesado vaso de leite.
Gostaria que me dissessem, se possível, como proceder para adquirir esse livro.
Meu nome é Yussif Slaiman Kanso. Resido na cidade de Santos/SP.
yussifkanso@gmail.com
Prezado Yussif,
ExcluirPrimeiramente, apresento minhas escusas por lhe responder já tardiamente: é que me encontrava em férias, sem notebook, longe de Brasília, e o máximo que consegui em tal situação foi publicar o seu comentário na correspondente postagem do blog, por meio do meu smartphone, na perspectiva de que algum internauta lhe pudesse prestar assistência.
Quanto à obra a que você faz menção, não cheguei à convicta conclusão de que, de fato, exista ou não, haja vista que nada encontrei a respeito, depois de uma longa pesquisa pela internet e endereços eletrônicos bastante específicos.
Talvez o poema a que você alude – quem sabe? –, tenha sido traduzido em alguma antologia de poesia francesa publicada em certo momento do século passado.
Seja como for, neste ou naquele caso, fico aquém do esperado.
A propósito, o poema a que você se reporta (“Un Évangile”, em “Les Récits et les Élégies”, de 1892), encontra-se disponível em https://fr.wikisource.org/wiki/Un_%C3%89vangile, podendo-se ter uma razoável ideia dos versos em português, embora com pequenos lapsos facilmente identificáveis e corrigíveis, mesmo na versão do tradutor do google.
Um abraço,
João A. Rodrigues
Prezado JOÃO A. RODRIGUES, boa tarde !
ResponderExcluirLamentavelmente, só agora tomei conhecimento de sua prestimosa resposta.
Quero agradecê-lo por atender minha solicitação e ao mesmo tempo pedir-lhe desculpas por só agora apresentar meus agradecimentos. Tem total razão. A tradução pelo google tirou um pouco o brilho poético, mas mesmo assim, foi de grande valia.
Muitíssimo obrigado!
Grande abraço.
Santos-SP, 18 de setembro 2023.
Yussif Slaiman Kanso
Prezado Yussif: tubo bem. Vida que segue. Um abraço. J.A.R.
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