Em pensar o mundo
como um cantar viveu Blaga – a dizer palavras que não lhe pertenciam e a amar
coisas que não lhe respondiam –, isto segundo a própria autobiografia lírica,
não exatamente uma autêntica biografia, mas um relato que nos diz muito sobre
suas crenças artísticas, os significados da poesia e a missão do poeta enquanto
espírito criador.
O poema é todo lirismo e languidez ao
acercar-se dessa dor oriunda do estado de consciência sobre o próprio drama: o
poeta vive e se sente diferente, em contínua experimentação, o que significa
que não detém graça, tampouco a companhia das musas, senão apenas a revelação
de um mistério: o de que o mundo é uma música harmoniosa com significado a se
perscrutar.
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Biografie
Unde şi când m-am ivit în lumină nu ştiu,
din umbră mă ispitesc singur să cred
că lumea e o cântare.
Străin zâmbind, vrăjit suind,
în mijlocul ei mă-mplinesc cu mirare.
Câteodată spun vorbe cari nu mă cuprind,
câteodată iubesc lucruri cari nu-mi răspund.
De vânturi şi isprăvi visate îmi sunt
ochii plini,
de umblat umblu ca fiecare:
când vinovat pe coperişele iadului,
când fără păcat pe muntele cu crini.
Închis în cercul aceleiaşi vetre
fac schimb de taine cu strămoşii,
norodul spălat de ape subt
pietre.
Seara se-ntâmplă mulcom s-ascult
în mine cum se tot revarsă
poveştile sângelui uitat de mult.
Binecuvânt pânea şi luna.
Ziua trăiesc împrăştiat cu furtuna.
Cu cuvinte stinse în gură
am cântat şi mai cânt marea trecere,
somnul lumii, îngerii de ceară.
De pe-un umăr pe altul
tăcând îmi trec steaua ca o povară.
Biografia
Onde e quando eu vim à luz não sei.
Da sombra, só, eu me esforço por crer
ser o mundo um cantar.
Estranho sorrio entre enleios que me
suspendem:
as coisas me vêm completar e espantar.
Por vezes falo palavras que não me
compreendem,
Por vezes amo coisas que não me
correspondem.
De ventos e façanhas sonhadas meus
olhos vão cheios.
Ando como um qualquer, quanto a andar:
quando culpado sobre os telhados de
geena,
se sem pecado por sobre montanhas de
açucenas.
Fechado no círculo das mesmas lareiras
troco mistérios com os antigos,
o povo lavado pelas águas de sob as
pedreiras.
A noite se passa suave por que escute
mudo
como em mim trasborda tudo
das lendas do sangue esquecido de há
muito.
Abençoo a lua e o pão.
Os dias vivo espalhado pelo trovão.
Com palavras presas na garganta
cantei a grande travessia, e ainda
canto,
o sono do mundo, os anjos de cera.
De um ombro para o outro, calado,
eu
troco minha estrela como um fardo.
Referência:
BLAGA, Lucian. Biografie / Biografia.
Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia.
Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF:
Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 36 e 38; em português: p. 37 e 39. (Coleção
‘Poetas do Mundo’)
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