Não estou bem convicto sobre o sentido maior desse primeiro excerto do
poema em três partes – as outras duas associadas às
consequências do amor (II) e dos (III) atos –, mas diria que, num plano geral,
busca-se defender a tese de que tudo o que nos acontece deriva, de um modo ou
de outro, de nossos próprios atos.
Diria eu que nem tanto ao mar nem tanto à terra: há situações que
ocorrem a determinadas pessoas, para as quais elas não contribuíram em nada,
pelo menos diretamente, a exemplo dos falecidos em razão do fatídico 11.9.2001
ou mesmo do tsunami no Oceano Índico em 2004.
Mas a propósito dos argumentos de Meredith, há certa passagem no
mencionado excerto III do mesmo poema (“Consequências dos meus atos”), no qual ele
assim pondera: “Vivemos entre gangues que parecem não ter interesse no que
estamos tratando de fazer, sem sentido de propriedade ou raça; no entanto, se falas
com autoridade, eles se deterão e se transformarão e, sombriamente, um por um, te
mostrarão um rosto local”. Ao fim, arremata: “Pelo nosso código, isso é justo.
Há justiça em nosso jogo. O mundo é justo”.
E permaneço eu com sérias dúvidas: será?! Preferiria prolatar um outro código
ou máxima, a saber: não apele à vitimização, mas assuma as rédeas da sua vida,
até o fim dos seus dias, levando em sua algibeira um exemplar das estoicas
meditações do filósofo-imperador Marco Aurélio. Ou ainda: apliquemos às ideias do poeta o recurso à aristotélica proporcionalidade da justiça.
J.A.R. – H.C.
William Meredith
(1919-2007)
Consequences of choice (I)
Despair is big with
friends I love,
Hydrogen and burning
jews.
I give them all the
grief I have
But I tell them,
friends, I choose, I choose,
Don’t make me say
against my glands
Or how the world has
treated me.
Though gay and modest
give offense
And people grieve
pretentiously,
More than I hoped to
do, I do
And more than I
deserve I get;
What little I attend,
I know
And it argues order
more than not.
My desperate friends,
I want to tell
Them, you take too
delicate offense
At the stench of time
and man’s own smell,
It is only the smell
of consequence.
Hércules na Encruzilhada
As consequências da escolha (I)
Grande é a aflição entre
os amigos que amo,
Gaseados e
esbraseados judeus.
Concedo-lhes todo o
meu pesar
Embora lhes diga,
amigos, minha é a opção,
Não me levem a falar
contra as minhas glândulas
Ou como o mundo me
tratou.
Ainda que afetados e
modestos se ofendam
E pessoas
pretensiosamente se aflijam,
Mais do que esperava fazer,
eu faço
E recebo mais do que
mereço;
O pouco que conforto,
reconheço-o
E isso denota ordem,
mais que nada.
Meus desalentados
amigos, quero lhes
Dizer, vocês tomam
por tão delicada ofensa
O miasma do tempo e o
cheiro do próprio homem,
Mas isso é tão apenas
o cheiro da consequência.
Referência:
MEREDITH, William. Consequences of
choice (I). In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The
vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A
Division of Random House Inc.), march 2003. p. 113.
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