Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 3 de maio de 2018

William Meredith - As consequências da escolha ‎

Não estou bem convicto sobre o sentido maior desse primeiro excerto do poema em três partes – as outras duas associadas às consequências do amor (II) e dos (III) atos –, mas diria que, num plano geral, busca-se defender a tese de que tudo o que nos acontece deriva, de um modo ou de outro, de nossos próprios atos.

Diria eu que nem tanto ao mar nem tanto à terra: há situações que ocorrem a determinadas pessoas, para as quais elas não contribuíram em nada, pelo menos diretamente, a exemplo dos falecidos em razão do fatídico 11.9.2001 ou mesmo do tsunami no Oceano Índico em 2004.

Mas a propósito dos argumentos de Meredith, há certa passagem no mencionado excerto III do mesmo poema (“Consequências dos meus atos”), no qual ele assim pondera: “Vivemos entre gangues que parecem não ter interesse no que estamos tratando de fazer, sem sentido de propriedade ou raça; no entanto, se falas com autoridade, eles se deterão e se transformarão e, sombriamente, um por um, te mostrarão um rosto local”. Ao fim, arremata: “Pelo nosso código, isso é justo. Há justiça em nosso jogo. O mundo é justo”.

E permaneço eu com sérias dúvidas: será?! Preferiria prolatar um outro código ou máxima, a saber: não apele à vitimização, mas assuma as rédeas da sua vida, até o fim dos seus dias, levando em sua algibeira um exemplar das estoicas meditações do filósofo-imperador Marco Aurélio. Ou ainda: apliquemos às ideias do poeta o recurso à aristotélica proporcionalidade da justiça.

J.A.R. – H.C.

William Meredith
(1919-2007)

Consequences of choice (I)

Despair is big with friends I love,
Hydrogen and burning jews.
I give them all the grief I have
But I tell them, friends, I choose, I choose,

Don’t make me say against my glands
Or how the world has treated me.
Though gay and modest give offense
And people grieve pretentiously,

More than I hoped to do, I do
And more than I deserve I get;
What little I attend, I know
And it argues order more than not.

My desperate friends, I want to tell
Them, you take too delicate offense
At the stench of time and man’s own smell,
It is only the smell of consequence.

Hércules na Encruzilhada
(Pompeo Batoni: pintor italiano)

As consequências da escolha (I)

Grande é a aflição entre os amigos que amo,
Gaseados e esbraseados judeus.
Concedo-lhes todo o meu pesar
Embora lhes diga, amigos, minha é a opção,

Não me levem a falar contra as minhas glândulas
Ou como o mundo me tratou.
Ainda que afetados e modestos se ofendam
E pessoas pretensiosamente se aflijam,

Mais do que esperava fazer, eu faço
E recebo mais do que mereço;
O pouco que conforto, reconheço-o
E isso denota ordem, mais que nada.

Meus desalentados amigos, quero lhes
Dizer, vocês tomam por tão delicada ofensa
O miasma do tempo e o cheiro do próprio homem,
Mas isso é tão apenas o cheiro da consequência.

Referência:

MEREDITH, William. Consequences of choice (I). In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 113.

Nenhum comentário:

Postar um comentário