Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 6 de maio de 2018

Czeslaw Milosz - Sobre a Peregrinação

Numa peregrinação real ou simbólica, o poeta se encontra em meio à natureza, num vale que arregimenta todo o arquétipo conformado pela consciência, memórias, impressões, experiências de generosidade e de benevolência, em busca de iluminação numa terra que bem poderia ser o paraíso edênico, Ulro ou mesmo o cenário da Baía de São Francisco, na Califórnia – onde Milosz esteve a ensinar na Universidade de Berkeley.

Neste poema, misterioso e familiar ao mesmo tempo, Milosz reporta-se a uma alegre celebração da harmonia da existência, quando se procura a justiça, em meio à beleza fugaz do mundo – exatamente num lugar devotado à iluminação –, trazendo-nos o alento e a recompensa pelas vicissitudes que todos experimentamos.

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

On Pilgrimage

May the smell of thyme and lavender accompany us
on our journey
To a province that does not know how lucky it is
For it was, among all the hidden corners of the earth,
The only one chosen and visited.

We tended toward the Place but no signs led there.
Till it revealed itself in a pastoral valley
Between mountains that look older than memory,
By a narrow river humming at the grotto.

May the taste of wine and roast meat stay with us
As it did when we used to feast in the clearings,
Searching, not finding, gathering rumors,
Always comforted by the brightness of the day.

May the gentle mountains and the bells of the flocks
Remind us of everything we have lost,
For we have seen on our way and fallen in love
With the world that will pass in a twinkling.

Lourdes, 1976
In: “Hymn of the Pearl” (“Hymn o Perle”, 1981)

Os Peregrinos de Chaucer
(Alfred G. Vandersyde: artista inglês)

Sobre a Peregrinação

Que o olor de tomilho e lavanda nos acompanhe em
nossa jornada
A uma província que não sabe o quanto é afortunada,
Por ter sido a única escolhida e visitada
Entre todos os ignotos rincões da terra.

Estávamos à busca do lugar, porém não havia sinais.
Até que se revelou num vale pastoral
Entre as montanhas que parecem mais antigas do que
a memória,
Por um rio estreito sussurrando na gruta.

Que o sabor do vinho e da carne fique conosco,
Assim como quando nos regalávamos nas clareiras,
Procurando, não encontrando, coletando relatos,
Sempre confortados pelo brilho do dia.

Que as montanhas suaves e os sinos dos rebanhos
Lembrem-nos de tudo quanto está perdido,
Porque pelo caminho já vimos e nos encantamos
Com um mundo que dura um piscar de olhos.

Lourdes, 1976
Em: “Hino da Pérola” (1981)

Referência:

MILOSZ, Czeslaw. On pilgrimage. Translated from Polish by Czeslaw Milosz and Robert Hass. In: __________. New and collected poems: 1931-2001. 5. ed. New York, NY: HarperCollins, 2003. p. 359.

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