Numa peregrinação real ou simbólica, o poeta se encontra em meio à
natureza, num vale que arregimenta todo o arquétipo conformado pela
consciência, memórias, impressões, experiências de generosidade e de
benevolência, em busca de iluminação numa terra que bem poderia ser o paraíso
edênico, Ulro ou mesmo o cenário da Baía de São Francisco, na Califórnia – onde
Milosz esteve a ensinar na Universidade de Berkeley.
Neste poema, misterioso e familiar ao mesmo tempo, Milosz reporta-se a
uma alegre celebração da harmonia da existência, quando se procura a justiça,
em meio à beleza fugaz do mundo – exatamente num lugar devotado à iluminação –,
trazendo-nos o alento e a recompensa pelas vicissitudes que todos experimentamos.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
On Pilgrimage
May the smell of
thyme and lavender accompany us
on our journey
To a province that
does not know how lucky it is
For it was, among all
the hidden corners of the earth,
The only one chosen
and visited.
We tended toward the
Place but no signs led there.
Till it revealed
itself in a pastoral valley
Between mountains
that look older than memory,
By a narrow river
humming at the grotto.
May the taste of wine
and roast meat stay with us
As it did when we
used to feast in the clearings,
Searching, not
finding, gathering rumors,
Always comforted by
the brightness of the day.
May the gentle
mountains and the bells of the flocks
Remind us of
everything we have lost,
For we have seen on
our way and fallen in love
With the world that
will pass in a twinkling.
Lourdes, 1976
In: “Hymn of the Pearl” (“Hymn o Perle”,
1981)
Os Peregrinos de Chaucer
(Alfred G. Vandersyde:
artista inglês)
Sobre a Peregrinação
Que o olor de tomilho
e lavanda nos acompanhe em
nossa jornada
A uma província que
não sabe o quanto é afortunada,
Por ter sido a única
escolhida e visitada
Entre todos os
ignotos rincões da terra.
Estávamos à busca do
lugar, porém não havia sinais.
Até que se revelou
num vale pastoral
Entre as montanhas
que parecem mais antigas do que
a memória,
Por um rio estreito
sussurrando na gruta.
Que o sabor do vinho
e da carne fique conosco,
Assim como quando nos
regalávamos nas clareiras,
Procurando, não
encontrando, coletando relatos,
Sempre confortados
pelo brilho do dia.
Que as montanhas
suaves e os sinos dos rebanhos
Lembrem-nos de tudo
quanto está perdido,
Porque pelo caminho
já vimos e nos encantamos
Com um mundo que dura
um piscar de olhos.
Lourdes, 1976
Em: “Hino da Pérola” (1981)
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. On pilgrimage.
Translated from Polish by Czeslaw Milosz and Robert Hass. In: __________. New and collected poems: 1931-2001. 5.
ed. New York, NY: HarperCollins, 2003. p. 359.
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