Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Pablo Neruda - Ode à idade ‎

O poeta chileno tinha o dom de transformar em palavras, ou melhor, em odes, qualquer que fosse o tema ao qual a humana vivência estivesse exposta: à crítica, à bicicleta, às meias, ao gato, à cebola – e por aí vai –, tudo com a característica circunspeção, vertida na genuína beleza da poesia.

Aqui ele se dedica a afrontar o avanço da idade, não lhe concedendo crédito, pois com o longo fio que demarca os anos pelos quais passou, regressa às origens, à aurora dos seus dias, para dali fisgar os peixes do advento, capazes de debelar o fogo que a tudo estiola nos dias que correm.

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

Ode a la edad

Yo no creo en la edad.

Todos los viejos
llevan
en los ojos
un niño,
y los niños
a veces
nos observan
como ancianos profundos.

Mediremos
la vida
por metros o kilómetros
o meses?
Tanto desde que naces?
Cuanto
debes andar
hasta que
como todos
en vez de caminarla por encima
descansemos, debajo de la tierra?

Al hombre, a la mujer
que consumaron
acciones, bondad, fuerza,
cólera, amor, ternura,
a los que verdaderamente
vivos
florecieron
y en su naturaleza maduraron,
no acerquemos nosotros
la medida
del tiempo
que tal vez
es otra cosa, un manto
mineral, un ave
planetaria, una flor,
otra cosa tal vez,
pero no una medida.

Tiempo, metal
o pájaro, flor
de largo pecíolo,
extiéndete
a lo largo
de los hombres,
florécelos
y lávalos
con
agua
abierta
o con sol escondido.
Te proclamo
camino
y no mortaja,
escala
pura
con peldaños
de aire,
traje sinceramente
renovado
por longitudinales
primaveras.

Ahora,
tiempo, te enrollo,
te deposito en mi
caja silvestre
y me voy a pescar
con tu hilo largo
los peces de la aurora!

En: “Tercer libro de las odas” (1957)

Anciã em Vermelho
(Richard McBee: artista norte-americano)

Ode à idade

Não creio na idade.

Todos os velhos
levam
nos olhos
um menino,
e os meninos
às vezes
nos observam
como anciões profundos.

Mediremos
a vida
por metros ou quilômetros
ou meses?
Tanto desde que nasces?
Quanto
deves andar
até que
como todos
em vez de caminhá-la por cima
descansemos, debaixo da terra?

Ao homem, à mulher
que consumaram
ações, bondade, força,
cólera, amor, ternura,
aos que verdadeiramente
vivos
floresceram
e em sua natureza amadureceram,
não aproximemos
a medida
do tempo
que talvez
seja outra coisa, um manto
mineral, uma ave
planetária, uma flor,
outra coisa talvez,
mas não uma medida.

Tempo, metal
ou pássaro, flor
de longo pecíolo,
estende-te
ao longo
dos homens,
floresce-os
e lava-os
com
água
aberta
ou com sol escondido.
Te proclamo
caminho
e não mortalha,
escada
pura
com degraus
de ar,
traje sinceramente
renovado
por longitudinais
primaveras.

Agora,
tempo, te enrolo,
te deposito em minha
caixa silvestre
e vou pescar
com teu fio longo
os peixes da aurora!

Em: “Terceiro livro das odes” (1957)

Referência:

NERUDA, Pablo. Ode a la edad. In: __________. Antología poética. Edición de Rafael Alberti. 1. ed. La Plata, AR: Planeta, nov. 1996. p. 281-282. (Ediciones ‘Planeta Bolsillo’)

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