A poetisa vê a morte no centro de seus relacionamentos, mesmo no íntimo
de toda relação carnal que possa ter, porque, segundo ela, a morte lhe é irmã
inseparável, essa ideia de nascimento e finitude que teria sido engendrada por
um incógnito, ou melhor, desconhecido deus.
Tal seria a razão de ela ter-se tornado “poeta”, porque a poesia a tudo
perpassa em meio à transitoriedade do mundo, esse abraço em uma nuvem que nos
céus transita, esse beijo, esse divertir-se e o desapegar-se, deixando-a ir-se,
como na composição “Lilás”,
do Djavan.
J.A.R. – H.C.
Hilda Hilst
(1930-2004)
Da Morte. Odes Mínimas - XXXII
Porque me fiz poeta?
Porque tu, morte,
minha irmã,
No instante, no
centro
De tudo o que vejo.
No mais que perfeito
No veio, no gozo
Colada entre mim e o
outro.
No fosso
No nó de um íntimo
laço
No hausto
No fogo, na minha
hora fria.
Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana ideia de um
deus que não conheço
A ti, morte, minha
irmã,
Te vejo.
Rei Lear chorando
sobre o corpo de Cordélia
(James Barry: pintor
irlandês)
Referência:
HILST, Hilda. Da morte. Odes mínimas -
XXXII. In: __________. Uma superfície de
gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst. Seleção, organização e
apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 126.
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