Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Hilda Hilst - Da Morte. Odes Mínimas - XXXII

A poetisa vê a morte no centro de seus relacionamentos, mesmo no íntimo de toda relação carnal que possa ter, porque, segundo ela, a morte lhe é irmã inseparável, essa ideia de nascimento e finitude que teria sido engendrada por um incógnito, ou melhor, desconhecido deus.

Tal seria a razão de ela ter-se tornado “poeta”, porque a poesia a tudo perpassa em meio à transitoriedade do mundo, esse abraço em uma nuvem que nos céus transita, esse beijo, esse divertir-se e o desapegar-se, deixando-a ir-se, como na composição “Lilás”, do Djavan.

J.A.R. – H.C.

Hilda Hilst
(1930-2004)

Da Morte. Odes Mínimas - XXXII

Porque me fiz poeta?
Porque tu, morte, minha irmã,
No instante, no centro
De tudo o que vejo.

No mais que perfeito
No veio, no gozo
Colada entre mim e o outro.
No fosso
No nó de um íntimo laço
No hausto
No fogo, na minha hora fria.

Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana ideia de um deus que não conheço
A ti, morte, minha irmã,
Te vejo.

Rei Lear chorando
sobre o corpo de Cordélia
(James Barry: pintor irlandês)

Referência:

HILST, Hilda. Da morte. Odes mínimas - XXXII. In: __________. Uma superfície de gelo ancorada no riso: antologia de Hilda Hilst. Seleção, organização e apresentação de Luisa Destri. São Paulo, SP: Globo, 2012. p. 126.

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