Assim
como Eugenio Montale, segundo o poema “As Rimas”, o
poeta português pouca atenção confere a esse recurso de homofonia externa,
comumente empregado ao final dos versos, muito embora, é claro, possua alguns
sonetos em que elas se oferecem ostensivas.
Mas
se observe que Pessoa sustenta haver certa “simplicidade divina” em ser só
externalidades, como a cor das flores e, em homologia, a harmonia das rimas,
ele que é, em contraste, expressão caudalosa de pensamentos e sentimentos que
lhe invadem o desassossegado espírito.
J.A.R.
– H.C.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
Não me importo com as rimas
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...
(Alberto Caeiro)
“O Guardador de Rebanhos” (1911-1912): poema XIV
Vitória-Régia
(Marianne North: artista inglesa)
Referência:
PESSOA,
Fernando. Não me importo com as rimas. In: __________. Obra poética.
8. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1981. p. 148. (Biblioteca
Luso-Brasileira)
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