Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 22 de maio de 2018

Fernando Pessoa - Não me importo com as rimas ‎

Assim como Eugenio Montale, segundo o poema “As Rimas”, o poeta português pouca atenção confere a esse recurso de homofonia externa, comumente empregado ao final dos versos, muito embora, é claro, possua alguns sonetos em que elas se oferecem ostensivas.

 

Mas se observe que Pessoa sustenta haver certa “simplicidade divina” em ser só externalidades, como a cor das flores e, em homologia, a harmonia das rimas, ele que é, em contraste, expressão caudalosa de pensamentos e sentimentos que lhe invadem o desassossegado espírito.

 

J.A.R. – H.C.

 

Fernando Pessoa

(1888-1935)

 

Não me importo com as rimas

 

Não me importo com as rimas. Raras vezes

Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.

Penso e escrevo como as flores têm cor

Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me

Porque me falta a simplicidade divina

De ser todo só o meu exterior.

 

Olho e comovo-me,

Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,

E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...

 

(Alberto Caeiro)

“O Guardador de Rebanhos” (1911-1912): poema XIV

 

Vitória-Régia

(Marianne North: artista inglesa)

 

Referência:

 

PESSOA, Fernando. Não me importo com as rimas. In: __________. Obra poética. 8. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1981. p. 148. (Biblioteca Luso-Brasileira)

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