Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Denise Levertov - Venha à Presença dos Animais ‎

A perfeição do mundo natural supera em muito a perspectiva metafórica muitas vezes implicante que nós, os humanos, ousamos associar a várias espécies animais, a exemplo das serpentes e das hienas. Mirando os fatos a partir de pressupostos à margem do consueto, por outro lado, há aqueles que, como Rousseau, teorizam o mito do bom selvagem, um quase animal que ainda não assimilou os vícios e as degenerações do homem dito civilizado.

Tudo quanto pertence ao estado da natureza – seres vivos: plantas e animais –, como pressupõe Levertov, resguarda o estado primordial de santidade, pois que sendo criações a ocupar o paraíso edênico, o Eterno as teria subjugado ao homem, o qual, por sua vez, tem-nas dizimado irrefletidamente.

Mas os seres sencientes foram criados com propósitos e para usufruírem a felicidade prometida, independentemente de serem ou não dotados de racionalidade. E o amor é a força maior capaz de a tudo integrar nesse cosmos que transita rumo a um porto ancorado na eternidade.

J.A.R. – H.C.

Denise Levertov
(1923-1997)

Come into Animal Presence

Come into animal presence.
No man is so guileless as
the serpent. The lonely white
rabbit on the roof is a star
twitching its ears at the rain.
The llama intricately
folding its hind legs to be seated
not disdains but mildly
disregards human approval.
What joy when the insouciant
armadillo glances at us and doesn’t
quicken his trotting
across the track into the palm brush.

What is this joy? That no animal
falters, but knows what it must do?
That the snake has no blemish,
that the rabbit inspects his strange surroundings
in white star-silence? The llama
rests in dignity, the armadillo
has some intention to pursue in the palm-forest.
Those who were sacred have remained so,
holiness does not dissolve, it is a presence
of bronze, only the sight that saw it
faltered and turned from it.
An old joy returns in holy presence.

Animais entrando na arca de Noé
(Jacopo Bassano: pintor italiano)

Venha à Presença dos Animais

Venha à presença dos animais.
Nenhum homem é tão inocente quanto
a serpente. O branco e solitário
coelho na cobertura é uma estrela
sacudindo suas orelhas sob a chuva.
A lhama, que dobra intrincadamente
as patas traseiras para se sentar,
não despreza, senão discretamente
desconsidera a aprovação humana.
Que alegria quando o despreocupado
armadilho nos lança o olhar e não
apressa o seu trote
ao cruzar a via rumo à moita da palmeira.

Que alegria é essa, a obrar para que nenhum
animal hesite, mas saiba o que há de fazer?
Que a serpente não se associe a máculas
e o coelho inspecione o seu ambiente estranho,
no silencioso branco das estrelas? A lhama
descansa com dignidade; o armadilho tem algum
intento em sua busca no bosque de palmeiras.
Os que sagrados foram feitos assim permanecem,
A santidade não se dissolve, é uma brônzea
presença, somente os olhos que a contemplam
hesitam e dela se afastam.
Uma imemorial alegria retorna em santa presença.

Referência:

LEVERTOV, Denise. Como into animal presence. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Coords.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 164-165.

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