As palavras têm poder, como se costuma afirmar aqui como alhures! E tanto
mais se arranjadas de forma elegante para desconstruir preconceitos,
intolerâncias, hostilidades, discriminações – assim como a poesia compromissada,
de alto poder de transformação, a reverberar fundo na mente de quem a espreita.
Foi com um desses poemas que a escritora negra norte-americana conheceu
a própria poesia, ela cuja mãe era professora e que agora se dedica a escrever
livros para crianças e adolescentes, didáticos e autoexplicativos, com toda a
sutileza para fazer fluir temas relevantes entre o lúdico e o sério.
J.A.R. – H.C.
Marilyn Nelson
(n. 1946)
How I discovered poetry
It was like
soul-kissing, the way the words
filled my mouth as
Mrs. Purdy read from her desk.
All the other kids
zoned an hour ahead to 3:15,
but Mrs. Purdy and I
wandered lonely as clouds borne
by a breeze off Mount
Parnassus. She must have seen
the darkest eyes in
the room brim: The next day
she gave me a poem
she’d chosen especially for me
to read to the all
except for me white class.
She smiled when she
told me to read it, smiled harder,
said oh yes I could.
She smiled harder and harder
until I stood and
opened my mouth to banjo playing
darkies, pickaninnies,
disses and dats. When I finished
my classmates stared
at the floor. We walked silent
to the buses, awed by
the power of words.
O poder das palavras
(Alejandra Sieder:
pintora venezuelana)
Como descobri a poesia
Foi como um beijo
n’alma, o modo como as palavras impregnaram
os meus lábios tão
logo a Sra. Purdy passou a lê-las em sua secretária.
Todas as crianças já haviam se dispersado uma hora depois das 3:15,
mas a Sra. Purdy e eu
vagamos solitariamente como nuvens levadas
por uma brisa do
Monte Parnaso. Ela deve ter divisado os olhos
mais nebulosos nas
extremidades do recinto. No dia seguinte,
deu-me um poema que
havia selecionado especialmente para que
eu o lesse para toda
a classe branca ali presente, à minha exceção.
Ela sorriu quando me
disse para recitá-lo, sorriu mais ainda quando
me assegurou de que eu o
seria capaz. Sorriu cada vez mais forte,
até que me pus de pé e
abri minha boca ao banjo para desagravar
os escuros, os negrinhos,
os insultos e as cretinices. Quando terminei,
meus colegas de
classe miravam o chão. Caminhamos silenciosamente
em direção aos
ônibus, impressionados pelo poder das palavras.
Referência:
NELSON, Marilyn. How I discovered
poetry. Higgins School of Humanities,
Clark University, Worcester (MA), calendar of events: spring 2013, p. 13.
Disponível neste endereço. Acesso em: 25 fev.
2018.
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