Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 30 de março de 2018

Eugenio Montale - Traz-me o girassol que eu o transplante

Eis uma invocação para que nos afastemos da materialidade pura e simples, visando ao alcance da essência mesma da iluminação, tornando-nos mais próximos da realidade incorpórea da poesia, ela que transita também pelas sensações da visão e da audição, melhor ainda, pelo amarelo rútilo dos girassóis e pela música que transporta ao reino do desvanecimento.

É no metafórico terreno árido da alma, queimada pelo sol, que o poeta deseja transplantar algo tão vívido quanto o aludido girassol, com potencial para conferir relevo às manifestações do plano espiritual, em detrimento das forças orgânicas do corpo físico, o qual, com a idade, avança para a consumação de suas funções.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

Portami il girasole ch’io lo trapianti

Portami il girasole ch’io lo trapianti
nel mio terreno bruciato dal salino,
e mostri tutto il giorno agli azzurri specchianti
del cielo l’ansietà del suo volto giallino.

Tendono alla chiarità le cose oscure,
si esauriscono i corpi in un fluire
di tinte: queste in musiche. Svanire
è dunque la ventura delle venture.

Portami tu la pianta che conduce
dove sorgono bionde trasparenze
e vapora la vita quale essenza;
portami il girasole impazzito di luce.

O pintor de girassóis
(Paul Gauguin: pintor francês)

Traz-me o girassol que eu o transplante

Traz-me o girassol que eu o transplante
no meu terreno queimado de maresia,
e a ansiedade de sua face amarela mostre
aos azuis brilhantes do céu todo dia.

Tendem à claridade as coisas obscuras,
exaurem-se os corpos num decorrer
de tintes: esses em música. Esvaecer
é portanto a ventura das desventuras.

Traz-me tu a planta que conduz
aonde surgem louras de transparências
e evapora-se a vida como essência;
traz-me o girassol enlouquecido de luz.

Referências:

MONTALE, Eugenio. Portami il girasole ch’io lo trapianti / Traz-me o girassol que eu o transplante. Tradução de Renato Xavier. In: __________. Ossos de sépia. Tradução, prefácio e notas de Renato Xavier. São Paulo, SP: Companhia das Letras, jan. 2002. Em italiano: p. 76; em português: p. 77. (Coleção “Prêmio Nobel”)

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