Decerto Castro Alves não foi um “libertador” com a estatura de um Bolívar,
San Martín ou José Martí, mas os seus poemas dedicam-se também a uma grande
causa, mais exatamente, à causa abolicionista: é sobre ela que Neruda discorre
neste seu poema.
Trata-se de um diálogo hipotético entre os dois poetas que, de fato, não
foram contemporâneos, muito embora tenham sofrido as agruras de ver os seus
respectivos povos coagidos pelas forças da opressão, a clamar por liberdade,
ainda que tardia!
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Castro Alves del Brasil
Castro Alves del Brasil, tú para quién
cantaste?
¿Para la flor cantaste? Para el agua
cuya hermosura dice palabras a las
piedras?
¿Cantaste para los ojos, para el perfil cortado
de la que amaste entonces? Para la
primavera?
Sí, pero aquellos
pétalos no tenían rocío,
aquellas aguas negras
no tenían palabras,
aquellos ojos eran
los que vieron la muerte,
ardían los martirios
aun detrás del amor,
la primavera estaba
salpicada de sangre.
– Canté para los
esclavos, ellos sobre los barcos
como el racimo oscuro
del árbol de la ira
viajaron, y en el
puerto se desangró el navío
dejándonos el peso de
una sangre robada.
– Canté en aquellos
días contra el infierno,
contra las afiladas
lenguas de la codicia,
contra el oro
empapado en el tormento,
contra la mano que
empuñaba el látigo,
contra los directores
de tinieblas.
– Cada rosa tenía un muerto
en sus raíces.
La luz, la noche, el
cielo se cubrían de llanto,
los ojos se apartaban
de las manos heridas
y era mi voz la única
que llenaba el silencio.
– Yo quise que del
hombre nos salváramos,
yo creía que la ruta
pasaba por el hombre,
y que de allí tenía
que salir el destino.
Yo canté para
aquellos que no tenían voz.
Mi voz golpeó las
puertas hasta entonces cerradas
para que,
combatiendo, la Libertad entrase.
Castro Alves del Brasil, hoy que tu
libro puro
vuelve a nacer para la tierra libre,
déjame a mí, poeta de nuestra pobre
América,
coronar tu cabeza con el laurel del
pueblo.
Tu voz se unió a la eterna y alta voz
de los hombres.
Cantaste bien. Cantaste como debe
cantarse.
En: “Canto General – Los Libertadores”
Castro Alves
(1847-1871)
Castro Alves do Brasil
Castro Alves do Brasil, para quem
cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja beleza diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos, para o perfil
cinzelado
da que então amaste? Para a primavera?
Sim, mas aquelas
pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras
não tinham palavras,
aqueles olhos eram os
que viram a morte,
ardiam ainda os
martírios por trás do amor,
a primavera estava
salpicada de sangue.
– Cantei para os
escravos, eles sobre os navios
como o feixe escuro
da árvore da ira
viajaram, e no porto descarregou-se o navio
deixando-nos o peso
de um sangue roubado.
– Cantei naqueles
dias contra o inferno,
contra as afiadas
línguas da cobiça,
contra o ouro
empapado no tormento,
contra a mão que
empunhava o chicote,
contra os mandantes
de trevas.
– Cada rosa tinha um
morto em suas raízes.
A luz, a noite, o céu
se cobriam de pranto,
os olhos se apartavam
das mãos feridas
e era a minha voz a
única que enchia o silêncio.
– Eu quis que do
homem nos salvássemos,
confiava que a rota
passava pelo homem,
e que dali tinha que sair
o destino.
Cantei para aqueles
que não tinham voz.
Minha voz bateu em
portas até então fechadas
para que, combatendo,
a Liberdade entrasse.
Castro Alves do Brasil, hoje que teu
livro puro
volta a nascer para a terra livre,
deixa-me a mim, poeta da nossa pobre
América,
coroar tua cabeça com o louro do povo.
Tua voz se uniu à eterna e alta voz dos
homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve
cantar.
Em: “Canto Geral – Os Libertadores”
Referência:
NERUDA, Pablo. Castro Alves del Brasil.
In: __________. Antología poética.
Edición de Rafael Alberti. 1. ed. La Plata, AR: Planeta, nov. 1996. p.
151-152. (Ediciones ‘Planeta Bolsillo’)
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