O ano de 2018 avança e já vamos ao derradeiro mês do primeiro trimestre.
E o poeta o associa com o tempo das chuvas, que encerrando definitivamente o
inverno, traz consigo os primeiros sinais da primavera e os seus efeitos
multicoloridos, a contrastar com a uniformidade branca de algumas semanas
atrás.
Aqui pelo hemisfério sul, não é tão diferente: a tais chuvas, chamamo-las
“águas de março”, fenômeno que foi objeto da afamada composição de Tom Jobim,
na voz da Elis Regina: apenas com um contorno distinto – “são as águas de março
fechando o verão!”.
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Mars
Parfois un caprice te
prend,
Méchante amie, et tu
me boudes,
Et sur le balcon tu t’accoudes
Malgré l’eau qui tombe
à torrent.
Mais, vois-tu! Mars
avec ses grêles
A qui succède un gai
soleil,
Chère boudeuse, est tout
pareil
A nos fugitives querelles.
Tels ces oiseaux,
pauvres petits,
Sous ce fronton,
pendant l’averse,
Et telle ta bouche
perverse
Où des sourires sont
blottis.
Vienne un rayon, et,
la première
Tu tourneras vers moi
les yeux,
Et les oiselets tout
joyeux
S’envoleront dans la
lumière.
Cena de Rua
(Antonio DeVity:
pintor italiano)
Março
Às vezes, cruel
amante,
Zangada encostar-te
vais
À janela, não
obstante
As chuvas
torrenciais;
Varre de março os
granizos
O sol, que irrompe
depois...
Depois do arrufo, os
sorrisos
Nos ligam, de novo,
os dois.
Asilo as aves na
telha
Acham, da chuva a
fugir;
Tal, nessa boca
vermelha,
Os risos que tens de
rir.
Ao calor dos meus
carinhos
Volves-me os olhos
azuis,
E alegres os
passarinhos
Batem as asas na luz.
(3 de maio de 1881)
Referência:
COPPÉE, François. Mars / Março. Tradução
de Raimundo Correia e Valentim Magalhães. In: __________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora
Nacional, 1948. Em francês: p. 450; em português: p.
375.
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