O poeta declina de presenciar uma provável sessão espírita para a qual
foi convidado pela amada ou um amigo, em razão de seu assombro ou medo pelas
notícias de que, além deste, há um outro domínio por vir: “um mundo de
fantasmas, ledo ou triste”, sabe-se lá.
E ao final arremata que, sendo a vida um “mal tamanho”, imaginar que a
morte não possa ser um fim, “estranho terror” nos assola, haja vista que migra
para outras esferas uma provação a que aspirávamos nunca mais ser submetidos.
Verdade ou alucinação?
J.A.R. – H.C.
Alberto de Oliveira
(1857-1937)
Espíritos
Não irei à sessão de
teus espíritos
Ouvi-los nas
respostas que te dão.
Deixa-me duvidar,
como duvido,
Sem voltar a alma,
sem voltar o ouvido
Ao que é verdade ou
alucinação.
Deixa-me, como vivo,
ir estes últimos
Dias vivendo,
deixa-me acabar,
Pouco me dando de
saber se existe
Um mundo de fantasmas,
ledo ou triste,
Póstumo e vago, a
remexer-se no ar.
Se da sobrevivência,
ao que ouço, pávido,
Há provas, infeliz de
mim, de ti,
De todos nós, pois,
num terror estranho,
Vem-se a saber que a
vida é mal tamanho
Que inda com a morte
não termina aqui.
Em: “Rimas Várias”
Ossian evoca os espíritos ao som da harpa
(François Gérard:
pintor francês)
Referência:
OLIVEIRA, Alberto de. Espíritos. In:
__________. Poesias: 1904-1911.
Terceira série. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1913. p. 171.
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