Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de março de 2018

Kay Ryan - Os Cosmólogos Antigos ‎

Apesar de o tema do epigrafado poema de Ryan partir da forma como os antigos cosmólogos adaptavam os seus modelos explicativos acerca do que acontecia no espaço interestelar, o sentido último por ele colimado, a meu ver, distancia-se deveras das preleções de astronomia.

No fundo, o poeta quer que nos demos conta de que as mudanças não acontecem num “continuum”, momento a momento – como, por exemplo, os efeitos da idade em nossos corpos –, senão apenas depois que certas etapas são superadas, permitindo-nos que galguemos novos patamares, sem perigo de regressão a estágios pelos quais já passamos.

P.s.: Para ser honesto, não estou bem convencido de que a mensagem que o autor desejava transmitir era exatamente essa. Mas como o leitor é o destinatário último do poema e o seu categórico intérprete (rs)...

J.A.R. – H.C.

Kay Ryan
(n. 1945)

The Old Cosmologists

When their cosmology
grows soft and spongy
and unreal, the
old cosmologists
get touchy. They feel
they should have
held it off, they should
have known about it
in advance, they
should have stretched
the interstellar cloth
or sown a row of stars
along a rift just to the left
of Mars or guessed
about a pin-sized patch
of purple gas or grafted
comets tail-to-tail
and thus or otherwise
suppressed the drift;
as if change were not
something that just happens
at certain stages
but a private test failed
moment by moment
as age is.

Bote de Saturno
(Alyssa Parsons: pintora norte-americana)

Os Cosmólogos Antigos

Os cosmólogos antigos
tornam-se sensíveis
quando a sua cosmologia
evolui num padrão suave,
esponjoso e irreal. Sentem
que deveriam tê-lo
evitado, deveriam
sabê-lo
de antemão, deveriam
ter estirado
a trama interestelar
ou semeado uma fileira de estrelas
ao longo de um hiato precisamente
à esquerda de Marte ou prognosticado
sobre uma diminuta mancha
de gás púrpura ou implantado
cometas cauda a cauda
e assim ou de outro modo
suprimido a deriva;
como se a mudança não fosse
algo que só acontecesse
em certas etapas,
mas um teste privado baldado
momento a momento
como o é a idade.

Referência:

RYAN, Kay. The old cosmologists. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 532.

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