Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 10 de março de 2018

Luis García Montero - A pipa ‎

Num cenário em que as coisas se alteram, mudando a ordem a que costumamos associá-las, o sujeito poético, axiomático, percebe que a chave da fechadura do ambiente, onde enclausurados estão os nossos medos, já não se habilita a dar o giro de interdição imperativo, porque ali já não é capaz de insinuar-se.

Aos que pugnam por romper barreiras o poeta se associa, e mesmo que ainda se sinta preso às antigas convenções, como um garoto sem família em casa de quem o acolhe, espera ansioso pelo dia em que poderá soltar uma pipa, insuspeita metáfora para o sentido que atribuímos ao termo “liberdade”.

J.A.R. – H.C.

Luis García Montero
(n. 1958)

La cometa

De pronto llega el día.
Alguien sabe cambiar de sitio las manzanas,
Adán no es para Eva como un hermano viejo
y la serpiente muerde y se pone a la altura
de la fama que arrastra.
De pronto, alguna vez,
los jefes no vigilan
detrás de las noticias de un periódico,
la luna es más sencilla que una puerta
y no tienen razón
el eco y el ciprés, el lobo y la pregunta
por los que no han venido.
En esa cerradura de los miedos
de pronto hay una llave que no entra.
Me convenzo, me afirmo con vosotros.
Pero duele también la mala suerte
de nunca estar ahí,
de no llegar a tiempo para verlo.
Resisto como un niño sin familia
que espera en casa del extraño
la hora de volar una cometa.

Pipas Brilhantes
(Atul Todi: artista indiano)

A pipa

De repente chega o dia.
Alguém sabe como mudar as maçãs de lugar.
Adão não é para Eva como um irmão mais velho
e a serpente morde e se põe à altura
da fama que arrasta.
De repente, alguma vez,
os chefes não vigiam
por trás das notícias de um jornal,
a lua é mais simples do que uma porta
e não têm razão
o eco e o cipreste, o lobo e a pergunta
pelos que não vieram.
Nessa fechadura dos medos
de repente há uma chave que não entra.
Me convenço, me afirmo convosco.
Porém também dói a má sorte
de nunca estar aí,
de não chegar a tempo para vê-lo.
Resisto como um menino sem família
que espera em casa do estranho
a hora de empinar uma pipa.

Referência:

MONTERO, Luis García. La cometa. In: MARTTÍNEZ, Begoña Sáez (Edición y coordinación editorial). La poesía está em el viento: proyecto cometa literaria. Brasília, DF: Embajada de España em Brasil; Thesaurus, 2013. p. 21. Disponível neste endereço.

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