Num cenário em que as coisas se alteram, mudando a ordem a que costumamos
associá-las, o sujeito poético, axiomático, percebe que a chave da fechadura do
ambiente, onde enclausurados estão os nossos medos, já não se habilita a dar o
giro de interdição imperativo, porque ali já não é capaz de insinuar-se.
Aos que pugnam por romper barreiras o poeta se associa, e mesmo que
ainda se sinta preso às antigas convenções, como um garoto sem família em casa
de quem o acolhe, espera ansioso pelo dia em que poderá soltar uma pipa,
insuspeita metáfora para o sentido que atribuímos ao termo “liberdade”.
J.A.R. – H.C.
Luis García Montero
(n. 1958)
La cometa
De pronto llega el
día.
Alguien sabe cambiar
de sitio las manzanas,
Adán no es para Eva
como un hermano viejo
y la serpiente muerde
y se pone a la altura
de la fama que
arrastra.
De pronto, alguna
vez,
los jefes no vigilan
detrás de las
noticias de un periódico,
la luna es más
sencilla que una puerta
y no tienen razón
el eco y el ciprés,
el lobo y la pregunta
por los que no han
venido.
En esa cerradura de
los miedos
de pronto hay una
llave que no entra.
Me convenzo, me
afirmo con vosotros.
Pero duele también la
mala suerte
de nunca estar ahí,
de no llegar a tiempo
para verlo.
Resisto como un niño
sin familia
que espera en casa
del extraño
la hora de volar una
cometa.
Pipas Brilhantes
(Atul Todi: artista
indiano)
A pipa
De repente chega o
dia.
Alguém sabe como
mudar as maçãs de lugar.
Adão não é para Eva
como um irmão mais velho
e a serpente morde e
se põe à altura
da fama que arrasta.
De repente, alguma
vez,
os chefes não vigiam
por trás das notícias
de um jornal,
a lua é mais simples
do que uma porta
e não têm razão
o eco e o cipreste, o
lobo e a pergunta
pelos que não vieram.
Nessa fechadura dos
medos
de repente há uma
chave que não entra.
Me convenço, me
afirmo convosco.
Porém também dói a má
sorte
de nunca estar aí,
de não chegar a tempo
para vê-lo.
Resisto como um
menino sem família
que espera em casa do
estranho
a hora de empinar uma
pipa.
Referência:
MONTERO, Luis García. La cometa. In:
MARTTÍNEZ, Begoña Sáez (Edición y coordinación editorial). La poesía está em el viento: proyecto cometa literaria. Brasília,
DF: Embajada de España em Brasil; Thesaurus, 2013. p. 21. Disponível neste endereço.
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