Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de março de 2018

Onestaldo de Pennafort - Arte Poética ‎

A criação poética nasce como um corolário dos fatos da natureza, mesclados aos sentimentos e pensamentos que estes evocam na mente do poeta, quer sejam eles pura memória quer nostalgias, tendo ao fundo os revérberos musicais suscitados pelo clima de sonho.

 

Pennafort, apesar de ainda se render a algum esquema de rimas, já não se dispõe a manter a mesma métrica nos versos deste seu poema, compondo-os, ademais, de um modo menos convencional, em duas estrofes de tamanhos bem distintos – evidências, decerto, de um certo pendor modernista a que se rendera.

 

J.A.R. – H.C.

 

Onestaldo de Pennafort

(1902-1987)

 

Arte Poética

 

Da janela de onde olha a paisagem lá fora,

a ouvir o borbulhar da água que canta e chora

por sob as pontes, num eterno diapasão,

como se o rio fosse a música do chão,

o poeta sonha...

Desce a noite nas calçadas.

Alguém passa a assobiar umas notas trinadas.

O ar amortece... A brisa é terna como um beijo

nos olhos... E, ao sabor da brisa, sem desejo,

sem ânsias e sem dor, erra o seu pensamento,

vadiamente, como um pássaro ao relento...

Pouco a pouco, porém, a doçura da tarde

que os contornos suaviza e que as folhas encarde,

e esse esparso langor da hora crepuscular

em que tudo parece estático, a sonhar,

acordam na sua alma ignota melodia:

memória... evocação... delícia... nostalgia...

 

Silêncio. Arfa na sombra a voz das cousas, lassa:

trêmulos de asas, sons, ruídos em que passa

a eterna inquietação do crepúsculo... E quando,

no céu amplo e disperso,

nasce a primeira estrela cintilando,

nasce o primeiro verso...

 

Em: “Jogos da Noite” (1931)

 

Nostalgia

(Nelya Shenklyarska: artista russa)

 

Referência:

 

PENNAFORT, Onestaldo. Arte poética. In: __________. Poesias. Rio de Janeiro: Edição da “Organização Simões”, 1954. p. 146-147. (Coleção ‘Rex’)

4 comentários:

  1. gente desde muito cedo que conheci este poema em um livro de 1951, e sempre proclamei e aprersentei a varias pessoas,e hj posso feliz da vida dizer que amo, amo muito este moema que sei de tras para frente e de frente para trás

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezada Jane,
      Sem dúvida, há trechos de obras, frases, pensamentos e poemas que, pela densidade, tino ou graça de sua mensagem, nos marcam deveras, a ponto de não mais esquecermos deles!
      Tal parece ser o caso de momento.
      Grato.
      João A. Rodrigues

      Excluir
  2. Por favor alguém tem informação de um poema dele chamado a Mulher do Destino? Tenho uma paciente de 98 anos que só fala deste poema e estou tentando encontrar pra ela

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado(a),
      De fato, observa-se, por meio da internet, que o autor publicou, em 1928, uma coletânea de poemas sob o nomeado título “A Mulher do Destino”. Contudo, na vasta pesquisa que empreendi no acervo de diversas bibliotecas de universidades e faculdades do país, assim como na RVBI do serviço público, nada reporta a presença do aludido poemário. Idem, não consta no acervo da “Estante Virtual” qualquer livreiro ou sebo ofertando a obra em questão. Uma pena. Ficarei lhe devendo.
      Atenciosamente,
      João A. Rodrigues

      Excluir