A criação poética nasce como um corolário dos fatos
da natureza, mesclados aos sentimentos e pensamentos que estes evocam na mente
do poeta, quer sejam eles pura memória quer nostalgias, tendo ao fundo os
revérberos musicais suscitados pelo clima de sonho.
Pennafort, apesar de ainda se render a algum
esquema de rimas, já não se dispõe a manter a mesma métrica nos versos deste
seu poema, compondo-os, ademais, de um modo menos convencional, em duas
estrofes de tamanhos bem distintos – evidências, decerto, de um certo pendor
modernista a que se rendera.
J.A.R. – H.C.
Onestaldo de Pennafort
(1902-1987)
Arte Poética
Da janela de onde
olha a paisagem lá fora,
a ouvir o borbulhar
da água que canta e chora
por sob as pontes,
num eterno diapasão,
como se o rio fosse a
música do chão,
o poeta sonha...
Desce a noite nas calçadas.
Alguém passa a
assobiar umas notas trinadas.
O ar amortece... A
brisa é terna como um beijo
nos olhos... E, ao
sabor da brisa, sem desejo,
sem ânsias e sem dor,
erra o seu pensamento,
vadiamente, como um
pássaro ao relento...
Pouco a pouco, porém,
a doçura da tarde
que os contornos
suaviza e que as folhas encarde,
e esse esparso langor
da hora crepuscular
em que tudo parece
estático, a sonhar,
acordam na sua alma
ignota melodia:
memória...
evocação... delícia... nostalgia...
Silêncio. Arfa na sombra
a voz das cousas, lassa:
trêmulos de asas,
sons, ruídos em que passa
a eterna inquietação
do crepúsculo... E quando,
no céu amplo e
disperso,
nasce a primeira estrela
cintilando,
nasce o primeiro
verso...
Em: “Jogos da Noite” (1931)
Nostalgia
(Nelya Shenklyarska:
artista russa)
Referência:
PENNAFORT, Onestaldo.
Arte poética. In: __________. Poesias.
Rio de Janeiro: Edição da “Organização Simões”, 1954. p. 146-147. (Coleção
‘Rex’)
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gente desde muito cedo que conheci este poema em um livro de 1951, e sempre proclamei e aprersentei a varias pessoas,e hj posso feliz da vida dizer que amo, amo muito este moema que sei de tras para frente e de frente para trás
ResponderExcluirPrezada Jane,
ExcluirSem dúvida, há trechos de obras, frases, pensamentos e poemas que, pela densidade, tino ou graça de sua mensagem, nos marcam deveras, a ponto de não mais esquecermos deles!
Tal parece ser o caso de momento.
Grato.
João A. Rodrigues
Por favor alguém tem informação de um poema dele chamado a Mulher do Destino? Tenho uma paciente de 98 anos que só fala deste poema e estou tentando encontrar pra ela
ResponderExcluirPrezado(a),
ExcluirDe fato, observa-se, por meio da internet, que o autor publicou, em 1928, uma coletânea de poemas sob o nomeado título “A Mulher do Destino”. Contudo, na vasta pesquisa que empreendi no acervo de diversas bibliotecas de universidades e faculdades do país, assim como na RVBI do serviço público, nada reporta a presença do aludido poemário. Idem, não consta no acervo da “Estante Virtual” qualquer livreiro ou sebo ofertando a obra em questão. Uma pena. Ficarei lhe devendo.
Atenciosamente,
João A. Rodrigues