Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de março de 2018

Alceu Wamosy - Chopin ‎

O poeta constrói um soneto para dizer dos sentimentos que lhe revolvem o espírito quando ouve a música do pianista polonês Frédéric Chopin, seus noturnos em especial: suaves, sagrados, místicos, encantados, soturnos, amargurados...

É a beleza mansa de suas notas que se evola pelo espaço, a criar uma torrente comovedora de fráguas, num modo personalíssimo de tocar ao piano, fazendo tombar seus acordes em “teiasde bruma e de agonia dentro do coração de quem os sente”.

Nelson Freire interpreta Chopin
(Nocturne nº 3 in B major op. 9 nº 3 - Allegretto)

J.A.R. – H.C.

Alceu de Freitas Wamosy
(1895-1923)

Chopin

Tua pálida mão, cheia de alma,
sonha sobre a brancura do teclado,
como um lírio de sons que a lua ensalma
de um mistério suavíssimo e sagrado.

Uma virgem de luto, olhos em calma,
postas as mãos de luz reza ao teu lado,
e o seu gesto alvoral, como uma palma,
unge-te o vulto, místico, encantado...

Os acordes, tombando mansamente,
tecem teias de bruma e de agonia
dentro do coração de quem os sente.

E, sob a tua mão, triste, soturno,
o piano vai gemendo, ao fim do dia,
toda a humana amargura de um Noturno.

Em: “Coroa de Sonho” (1923)

Frédéric Chopin
(1810-1849)
Retrato de Maria Wodzińska

Referência:

WAMOSY, Alceu. Chopin. In: __________. Poesias. Com prefácio de Mansueto Bernardi. 2. ed. Porto Alegre, RS: Globo; Barcellos, Bertaso & C., 1925. p. 95.

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