O poeta constrói um soneto para dizer dos sentimentos que lhe revolvem o
espírito quando ouve a música do pianista polonês Frédéric Chopin, seus
noturnos em especial: suaves, sagrados, místicos, encantados, soturnos,
amargurados...
É a beleza mansa de suas notas que se evola pelo espaço, a criar uma
torrente comovedora de fráguas, num modo personalíssimo de tocar ao piano, fazendo
tombar seus acordes em “teias de bruma e de agonia dentro do coração
de quem os sente”.
Nelson Freire interpreta Chopin
(Nocturne nº 3 in B
major op. 9 nº 3 - Allegretto)
J.A.R. – H.C.
Alceu de Freitas Wamosy
(1895-1923)
Chopin
Tua pálida mão, cheia
de alma,
sonha sobre a
brancura do teclado,
como um lírio de sons
que a lua ensalma
de um mistério
suavíssimo e sagrado.
Uma virgem de luto,
olhos em calma,
postas as mãos de luz
reza ao teu lado,
e o seu gesto
alvoral, como uma palma,
unge-te o vulto, místico,
encantado...
Os acordes, tombando
mansamente,
tecem teias de bruma
e de agonia
dentro do coração de
quem os sente.
E, sob a tua mão,
triste, soturno,
o piano vai gemendo,
ao fim do dia,
toda a humana amargura
de um Noturno.
Em: “Coroa de Sonho” (1923)
Frédéric Chopin
(1810-1849)
Retrato de Maria Wodzińska
Referência:
WAMOSY, Alceu. Chopin. In: __________. Poesias. Com prefácio de Mansueto Bernardi. 2. ed. Porto Alegre, RS: Globo; Barcellos, Bertaso & C., 1925. p. 95.
WAMOSY, Alceu. Chopin. In: __________. Poesias. Com prefácio de Mansueto Bernardi. 2. ed. Porto Alegre, RS: Globo; Barcellos, Bertaso & C., 1925. p. 95.
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