Allah – “Deus” em árabe – é a dúvida suprema que paira no coração do
poeta, e não só no dele, senão no da maior parte das pessoas, de tão
incognoscível que se mostra, somente a si próprio identificável, como na
autorreferente expressão bíblica “Eu sou o que sou” (Êxodo 3:14).
Fatiga-se Khayyám em lucubrações, devaneios e meditações à busca da
comprovação da existência de Deus, não conseguindo vislumbrá-lo, motivo de sua
desorientação, porquanto se o Eterno se fixa na realidade, pergunta-se, à qual
realidade subsume-se o seu ser?
J.A.R. – H.C.
Omar Khayyám
(1048-1131)
Rubáiyát
1
Ó Allah,
incerto, vacilante,
sem rumo,
inteiramente
desorientado,
não consigo provar
a realidade do Teu
ser.
Profundas meditações,
trabalhosas
lucubrações
são simples
devaneios,
pesquisas no vácuo
em busca de Tua
existência,
que não consigo
vislumbrar.
Em sã consciência,
não posso compreender
de que modo Tu
existes,
embora muita gente
consagre e descreva
os mais fantasiosos
predicados
que Te resolveram
emprestar.
A conclusão de tudo
isso
é que ninguém Te
poderá conhecer
– com exceção de Ti
mesmo.
Pintura inominada
(Sam Del Russi:
pintor norte-americano)
Referência:
KHAYYÁM, Omar. Allah: a realidade do
teu ser. In: __________. Rubáiyát. Versão
ao português de Christovam de Camargo baseada na interpretação literal do texto
persa feita por Ragy Basile. São Paulo, SP: Martin Claret, 2003. p. 23.
(Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”; v. 156)
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