Popa, grande poeta sérvio, imagina a criação do mundo como um acidente:
um erro bobo e pequeno com o poder de engendrar o domínio espaço x tempo. E a
par disso, um erro bobo e pequeno pode ser agravado por outros tantos em série,
numa vã tentativa de se corrigir o erro inicial, até o problema atingir
gigantescas proporções.
E como todas as decisões representam opções por determinadas
alternativas, teria sido tudo tão diferente se a persistência no erro não
houvesse se tornado uma obsessão, agora uma progressão geométrica divergente,
rastro que se expande aos quatro cantos do universo...
J.A.R. – H.C.
Vasko Popa
(1922-1991)
Охола Грешка
Била једном једна грешка
Тако смешна, тако мала
Да је нико не би приметио
Али сама себе није хтела
Ни да гледа ни да чује
Шта све није измислила
Не би ли доказала
Да у ствари не постоји
Измислила је простор
Доказе своје у њега да смести
И време да јој доказе чува
И свет да јој доказе види
Све што је измислила
Није било ни тако смешно
Ни тако мало
Али је наравно било погрешно
Је ли могло бити другачије
Acima do Nível do Mar
(Vladimir Kush:
pintor russo)
O Erro Arrogante
Era uma vez um erro
Tão pequeno tão
ridículo
Que ninguém o teria
notado
Mas nem ele mesmo
Queria ver-se
ouvir-se
Inventou de tudo
Só para provar
Que a rigor não
existia
Inventou o espaço
No qual expor as suas
provas
E o tempo que
guardasse as suas provas
E o mundo para ver as
suas provas
Tudo o que inventou
Não era nem tão
ridículo
Nem tão pequeno
Mas era é claro
errado
Poderia ter sido
diferente
Referências:
Em Sérvio
Em Português
POPA, Vasko. O erro arrogante. Tradução
de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos.
Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 330. (Coleção “Lazuli”)
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