Sob a ótica da poetisa polonesa, para se falar sobre a morte e examinar o
que ela representa em nossas vidas, faz-se necessário minar o seu significado:
paradoxo, inevitabilidade, dor, seriedade – atributos para os quais Szymborska
recomenda leveza no trato, pelo menos enquanto nos redige o seu poema! (rs)
À evidência, a poetisa emprega elementos que fazem parte de nossas vidas
para, com eles, contrastar o que, em sua essência, o passamento não é,
diminuindo-lhe a relevância: suas vitórias são temporárias, porque a vida
sempre vence, reproduzindo-se nos corações que batem nos ovos das aves, nos
esqueletos dos bebês, nas sementes das plantas que brotam da terra...
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
O śmierci bez przesady
Nie zna się na żartach,
na gwiazdach, na
mostach,
na tkactwie, na
górnictwie, na uprawie roli,
na budowie okrętów i pieczeniu ciasta.
W nasze rozmowy o
planach na jutro
wtrąca swoje ostatnie słowo
nie na temat.
Nie umie nawet tego,
co bezpośrednio łączy się z
jej fachem:
ani grobu wykopać,
ani trumny sklecić,
ani sprzątnąć po sobie.
Zajęta zabijaniem,
robi to niezdarnie,
bez systemu i wprawy.
Jakby na każdym z nas uczyła się
dopiero.
Tryumfy tryumfami,
ale ileż klęsk,
ciosów chybionych
i prób podejmowanych
od nowa!
Czasami brak jej
siły,
żeby strącić muchę z
powietrza.
Z niejedną gąsienicą
przegrywa wyścig w pełzaniu.
Te wszystkie bulwy,
strąki,
czułki, płetwy,
tchawki,
pióra godowe i zimowa
sierść
świadczą o zaległościach
w jej marudnej pracy.
Zła wola nie
wystarcza
i nawet nasza pomoc w
wojnach i przewrotach,
to, jak dotąd, za mało.
Serca stukają w jajkach.
Rosną szkielety niemowląt.
Nasiona dorabiają się dwóch pierwszych listków,
a często i wysokich drzew na horyzoncie.
Kto twierdzi, że jest wszechmocna,
sam jest żywym dowodem,
że wszechmocna nie jest.
Nie ma takiego życia,
które by choć przez
chwilę
nie było nieśmiertelne.
Śmierć
zawsze o tę chwilę przybywa spóźniona.
Na próżno szarpie klamką
niewidzialnych drzwi.
Kto ile zdążył,
tego mu cofnąć nie może.
A morte de Minnehaha
(William de L. Dodge:
pintor norte-americano)
Sobre a morte sem exagero
Não entende de
piadas,
de estrelas de
pontes,
de tecer, minerar, lavrar
a terra,
de construir navios e
assar bolos.
Quando falamos de
planos para amanhã
intromete sua última
palavra
sem nada a ver com o
assunto.
Não sabe sequer as
coisas
diretamente ligadas
ao seu ofício:
nem cavar uma cova,
nem fazer um caixão,
nem arrumar a
desordem que deixa.
Ocupada em matar, o
faz de modo canhestro,
sem método nem mestria,
como se em cada um de
nós estivesse aprendendo.
Triunfos, vá lá,
mas quantas derrotas,
golpes falhos
e tentativas
repetidas de novo!
Às vezes lhe faltam
forças
para fazer cair uma
mosca do ar.
Mais de uma lagarta
rastejando a vence na
corrida.
Todos esses bulbos, grãos,
tentáculos,
barbatanas, traqueias,
plumagens nupciais e
pelame de inverno
testemunham atrasos
no seu trabalho
tedioso.
A má vontade não
basta,
e mesmo nossa ajuda
com guerras e revoluções
é, até aqui,
insuficiente.
Corações batem nos
ovos.
Crescem os esqueletos
dos bebês.
Das sementes brotam
duas primeiras folhinhas,
e amiúde também
árvores altas no horizonte.
Quem afirma que ela é
onipotente
é ele mesmo a prova
viva
de que onipotente ela
não é.
Não há vida
que pelo menos por um
momento
não tenha sido
imortal.
A morte
chega sempre atrasada
àquele momento.
Em vão força a
maçaneta
de uma porta invisível.
A ninguém pode
subtrair
o tempo alcançado
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. O śmierci bez przesady / Sobre a morte sem exagero. Tradução de Regina
Przybycien. In: __________. Um amor
feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. São Paulo,
SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 174 e 176; em português: p. 175
e 177.
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