Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 3 de março de 2018

Wisława Szymborska - Sobre a morte sem exagero ‎

Sob a ótica da poetisa polonesa, para se falar sobre a morte e examinar o que ela representa em nossas vidas, faz-se necessário minar o seu significado: paradoxo, inevitabilidade, dor, seriedade – atributos para os quais Szymborska recomenda leveza no trato, pelo menos enquanto nos redige o seu poema! (rs)

À evidência, a poetisa emprega elementos que fazem parte de nossas vidas para, com eles, contrastar o que, em sua essência, o passamento não é, diminuindo-lhe a relevância: suas vitórias são temporárias, porque a vida sempre vence, reproduzindo-se nos corações que batem nos ovos das aves, nos esqueletos dos bebês, nas sementes das plantas que brotam da terra...

J.A.R. – H.C.

Wisława Szymborska
(1923-2012)

O śmierci bez przesady

Nie zna się na żartach,
na gwiazdach, na mostach,
na tkactwie, na górnictwie, na uprawie roli,
na budowie okrętów i pieczeniu ciasta.

W nasze rozmowy o planach na jutro
wtrąca swoje ostatnie słowo
nie na temat.

Nie umie nawet tego,
co bezpośrednio łączy się z jej fachem:
ani grobu wykopać,
ani trumny sklecić,
ani sprzątnąć po sobie.

Zajęta zabijaniem,
robi to niezdarnie,
bez systemu i wprawy.
Jakby na każdym z nas uczyła się dopiero.

Tryumfy tryumfami,
ale ileż klęsk,
ciosów chybionych
i prób podejmowanych od nowa!

Czasami brak jej siły,
żeby strącić muchę z powietrza.
Z niejedną gąsienicą
przegrywa wyścig w pełzaniu.

Te wszystkie bulwy, strąki,
czułki, płetwy, tchawki,
pióra godowe i zimowa sierść
świadczą o zaległościach
w jej marudnej pracy.

Zła wola nie wystarcza
i nawet nasza pomoc w wojnach i przewrotach,
to, jak dotąd, za mało.

Serca stukają w jajkach.
Rosną szkielety niemowląt.
Nasiona dorabiają się dwóch pierwszych listków,
a często i wysokich drzew na horyzoncie.

Kto twierdzi, że jest wszechmocna,
sam jest żywym dowodem,
że wszechmocna nie jest.
Nie ma takiego życia,
które by choć przez chwilę
nie było nieśmiertelne.

Śmierć
zawsze o tę chwilę przybywa spóźniona.

Na próżno szarpie klamką
niewidzialnych drzwi.
Kto ile zdążył,
tego mu cofnąć nie może.

A morte de Minnehaha
(William de L. Dodge: pintor norte-americano)

Sobre a morte sem exagero

Não entende de piadas,
de estrelas de pontes,
de tecer, minerar, lavrar a terra,
de construir navios e assar bolos.

Quando falamos de planos para amanhã
intromete sua última palavra
sem nada a ver com o assunto.

Não sabe sequer as coisas
diretamente ligadas ao seu ofício:
nem cavar uma cova,
nem fazer um caixão,
nem arrumar a desordem que deixa.

Ocupada em matar, o faz de modo canhestro,
sem método nem mestria,
como se em cada um de nós estivesse aprendendo.

Triunfos, vá lá,
mas quantas derrotas,
golpes falhos
e tentativas repetidas de novo!

Às vezes lhe faltam forças
para fazer cair uma mosca do ar.
Mais de uma lagarta
rastejando a vence na corrida.

Todos esses bulbos, grãos,
tentáculos, barbatanas, traqueias,
plumagens nupciais e pelame de inverno
testemunham atrasos
no seu trabalho tedioso.

A má vontade não basta,
e mesmo nossa ajuda com guerras e revoluções
é, até aqui, insuficiente.

Corações batem nos ovos.
Crescem os esqueletos dos bebês.
Das sementes brotam duas primeiras folhinhas,
e amiúde também árvores altas no horizonte.

Quem afirma que ela é onipotente
é ele mesmo a prova viva
de que onipotente ela não é.
Não há vida
que pelo menos por um momento
não tenha sido imortal.

A morte
chega sempre atrasada àquele momento.

Em vão força a maçaneta
de uma porta invisível.
A ninguém pode subtrair
o tempo alcançado

Referência:

SZYMBORSKA, Wisława. O śmierci bez przesady / Sobre a morte sem exagero. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 174 e 176; em português: p. 175 e 177.

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