O poeta se despede da poesia – será mesmo para nunca mais? –, esse louco
cavalo que o desencaminha, num ritmo dissoluto, lascivo, até meandros da
realidade nos quais ela, incitadora, se estende à cama com demônios, e onde,
todavia, jamais se deixa capturar por completo.
O que Ycaza expõe em versos já muitos outros poetas e escritores
teorizaram em prosa, vale dizer, o conceito inapreensível daquilo que
costumamos denominar por “poesia”, ou melhor, sendo tão vasto o espectro de argumentações,
será que haverá mesmo um domínio bem circunscrito onde a poesia, de fato, se
alberga?!
J.A.R. – H.C.
Rafael Díaz Ycaza
(1925-2013)
Poesía
Adiós Poesía, caballo
loco
potro cerril maldito
al que jamás yo pude
sujetar la rienda
diente que te
empenabas en comerme
fuego que nunca pude
yo encender.
Adiós pájaro niebla,
Orfeo sin amor
Querida y detestada
Eurídice empenada en
acostarse
con los demonios.
Digo adiós a tu piel
tenebrecida
a tu infancia ya
vieja de renuncias
mundo demonio carne
que me salvaste a veces
de la condenación de
mis propios sentidos
con tus carruseles y
tus trenes
que no llegaban nunca
de feliz-infeliz, ay,
hasta cuándo.
Adiós, muslo centella
luciérnaga perdida de
la casa
de la razón. Vuelvo a
ser piedra
razonando y corriendo
por rios de la muerte.
Enemiga doncella,
todo vuelve a nacer
cuando te marchas:
veo los panes realmente
como fueron
antes de que los
doraras con tus mitos
con tu sexo de viento
y tus auréolas
de vana y tentadora
incitación.
Essência
Nydia Lozano: artista
espanhola
Poesia
Adeus Poesia, cavalo louco
maldito potro
indomado
a quem jamais pude
sujeitar a rédea
dente que te
empenhavas em comer-me
fogo que nunca pude
acender.
Adeus pássaro névoa,
Orfeu sem amor
Querida e detestada
Eurídice empenhada em
deitar-se
com os demônios.
Digo adeus à tua pele
tisnada
à tua infância já
velha de renúncias
mundo demônio carne
que às vezes me salvaste
da condenação de meus
próprios sentidos
com teus carrosséis e
teus trens
que não chegavam
nunca
de feliz-infeliz, oh,
até quando.
Adeus, coxa centelha
pirilampo perdido da
casa
da razão. Volto a ser
pedra
refletindo e correndo
pelos rios da morte.
Donzela inimiga, tudo
volta a nascer
quando partes: vejo
os pães realmente
como foram
antes que os
dourasses com teus mitos
com teu sexo de vento
e tuas auréolas
de vã e tentadora
incitação.
Referência:
YCAZA, Rafael Díaz. Poesía. In:
__________. Señas y contrasueñas:
antología poética. Guayaquil, EC: Núcleo del Guayas de la Casa de la Cultura
Ecuatoriana, octubre 1978. p. 16. (Colección “Letras del Ecuador”; v. 78)
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