Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 11 de março de 2018

Cláudio Murilo Leal - O Poeta

Talvez o poeta que dá título ao poema de Leal seja ele próprio – quem diria? –, a substituir as viagens a pontos selecionados do “mapa mundi”, por outras tantas “viagens” ao universo das letras, um borbulhante vertedouro de palavras que tangenciam a inteligibilidade de tudo quanto existe.

Contudo, os poemas também são elaborados com imagens ininteligíveis, e dessa forma se expressa a exuberância da “ars poetica”: na alternância entre o objetivo e o subjetivo, entre o racional e o irracional, entre a realidade e o sonho, entre a paisagem natural e o panorama de pensamentos, sentimentos e emoções que, por meio dela, acabam por encontrar uma válvula de escape.

J.A.R. – H.C.

Cláudio Murilo Leal
(n. 1937)

O poeta

Trocou as viagens de aventura, estradas, marés,
amigos feitos e desfeitos ao sopro do vento,
por uma intimidade maior com as palavras
através da leitura paciente de enciclopédias.

Conseguiu livros de edição esgotada, como
Arte Poética, Manual de Estilos, Dicionário de Rimas;
os poemas que passou a escrever logo depois
traíam uma erudição mal digerida, se bem que,

do ponto de vista do artesanato, fossem
mais bem acabados do que as obras de juventude,
onde a ânsia de contar todas as experiências,
esgotar as imagens, obscurecia o poema.
Seu estilo foi-se impondo entre os confrades
pela expressão concisa e precisa, clássica mesmo.

Às vezes, no entanto, invejava o tempo em que
brotava de seu cérebro imagens ininteligíveis.

Em: “Caderno de Proust”

Retrato de Claude Monet
(Pierre Auguste Renoir: pintor francês)

Referência:

LEAL, Cláudio Murilo. O poeta. In: __________. Módulos: 1959-1998. Rio de Janeiro, RJ: Sette Letras, 1998. p. 150. (Ministério da Cultura – Fundação Biblioteca Nacional – Departamento Nacional do Livro; Universidade de Mogi das Cruzes)

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