O poeta sustenta que a memória é incapaz de garantir eternidade ao seu canto.
Daí porque há de se ter personalidade, despojar-se do status de grande poeta e
servir à causa do gênio, conferindo-lhe plena humanidade.
Weöres, vate húngaro, bem observa que pouco ou nada se poderá esperar
das coisas mutáveis, evanescentes, como as criações da palavra: no máximo detêm
elas algum brilho, a extravasar de brasa que apenas aquece por minutos.
J.A.R. – H.C.
Sándor Weöres
(1913-1989)
Ars Poetica
Öröklétet dalodnak
emlékezet nem adhat.
Ne folyton-változótól reméld a dicsőséget:
bár csillog, néki sincsen, hát honnan adna néked?
Dalod az öröklétből tán egy
üszköt lobogtat
s aki feléje fordul, egy percig benne éghet.
Az okosak ajánlják: legyen egyéniséged.
Jó; de ha többre vágyol, legyél egyén-fölötti:
vesd le nagy-költőséged, ormótlan
sárcipődet,
szolgálj a géniusznak, add néki emberséged,
mely pont és
végtelenség: akkora, mint a többi.
Fogd el a lélek árján
fénylő forró igéket:
táplálnak,
melengetnek valahány világévet
s a te múló dalodba
csak vendégségbe járnak,
a sorsuk örökélet, mint sorsod örökélet,
társukként megölelnek és megint messze szállnak.
O Ateneu: as Fontes
(Hubert Robert:
artista francês)
Arte Poética
A memória não pode
eternizar a tua canção.
Não se espere glória
do que sempre muda:
brilha, mas não a tem,
então como oferecer-te?
Tua canção talvez
exiba uma brasa de eternidade
E os que a ela se voltam
aquecem-se por instantes.
Recomendam-no os
sábios: mostra personalidade.
Bem; mas se desejas
mais, vai além do individual:
larga o teu dote de poeta,
tuas galochas incômodas,
serve ao gênio, concede-lhe
tua humanidade,
que é ponto e
infinito: do mesmo porte dos outros.
Capta ardentes verbos
a luzir nos meandros d’alma:
eles nutrem e confortam
uns tantos anos cósmicos
e em tua efêmera
canção não passarão de migrantes,
o destino deles,
tanto quanto o teu, é a eternidade,
são amigos que te
abraçam e logo partem para longe.
Referência:
WEÖRES, Sándor. Ars poetica. In: MONIKA, Balatoni (Felelős Szerkesztő). Weöres
Sándor centenáriumi év. Budapest, HU:
Közigazgatási és Igazságügyi Minisztérium, 2014. o. 2. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 set.
2016.
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