Neste belo soneto com versos alexandrinos e rimas alternadas, o autor
alagoano discorre sobre a paixão e a arte. Segundo ele, para se fazer arte a
contento, há de se ter paixão. E paixão sem verso, nem pensar!
Para o poeta, a arte do verso é um culto pagão permeado por paixão.
Paixão seja ao modo como Dirceu – de fato, Tomás Antônio Gonzaga – dedica a
Marília – ou melhor, Maria Dorotéa Joaquina de Seixas; seja à forma devotada
por Des Grieux a Manon Lescaut, na ópera de Puccini, baseada na novela do Abade
Prévost.
J.A.R. – H.C.
Jorge de Lima
(1893-1953)
Paixão e Arte
A mesma inspiração, que acende o estro,
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Dá linguagem sublime à estátua muda,
Ou lânguida na lira se transforma
Em sons candentes...
Gonçalves Dias
Ter Arte é ter
Paixão. Não há Paixão sem Verso…
O verso é a Arte do
Verbo – o ritmo do som…
Existe em toda a
parte, ao léu da Vida, asperso
E a Música o modula
em gradações de tom…
Blasfemador, ardente,
amoroso ou perverso
Quando a Paixão que o
gera é Marília ou Manon…
Mas é sempre a Paixão
que o faz vibrar diverso;
Se o inspira o Ódio é
mau, se o gera o amor é bom…
Diz a História
Sagrada e a Tradição nos fala
dum amor inocente (o
mais alto destino):
A Paixão de Jesus, o
perdão a Madala.
Homem, faze do Verso
o teu culto pagão
E canta a tua Dor e
talha o alexandrino
A quem te acostumou a
ter Arte e Paixão.
Em: “XIV Alexandrinos” (1914)
O Beijo
(Francesco Hayez:
pintor italiano)
Referência:
LIMA, Jorge de. Paixão e arte. In:
__________. Obra poética. Edição
completa, em um volume organizada por Otto Maria Carpeaux. Rio de Janeiro:
Editora Getúlio Costa, nov. 1949. p. 51.
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