Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Oswald de Andrade - História pátria

A poesia de Oswald de Andrade encanta pelo gracioso de seus achados, como no caso deste poema, a retratar a história do Brasil não do modo como a lemos em obras de Boris Fausto ou Eduardo Bueno, senão de uma forma caricatural.

Com efeito, aqui ancoraram barcas sem conta, de portugueses, de jesuítas, de donatários a quem foram concedidas as capitanias hereditárias, de espanhóis, de holandeses, de invasores outros e de imigrantes – sobretudo europeus e orientais. Barcas partiram em sentido contrário cheias de índios, degradados e pau de tinta. E, ao final, resultou essa fusão étnica denominada “povo brasileiro”...

J.A.R. – H.C.

Oswald de Andrade
(1890-1954)

História pátria

Lá vai uma barquinha carregada de
Aventureiros
Lá vai uma barquinha carregada de
Bacharéis
Lá vai uma barquinha carregada de
Cruzes de Cristo
Lá vai uma barquinha carregada de
Donatários
Lá vai uma barquinha carregada de
Espanhóis
Paga prenda
Prenda os espanhóis!     
Lá vai uma barquinha carregada de
Flibusteiros
Lá vai uma barquinha carregada de
Governadores
Lá vai uma barquinha carregada de
Holandeses
Lá vai uma barquinha cheinha de índios
Outra de degradados
Outra de pau de tinta
Até que o mar inteiro
Se coalhou de transatlânticos
E as barquinhas ficaram
Jogando prenda côa raça misturada
No litoral azul de meu Brasil

Desembarque de Cabral em Porto Seguro
(Oscar Pereira da Silva: pintor carioca)

Referência:

ANDRADE, Oswald. História pátria. In: __________. Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade. São Paulo, SP: Globo, 2005. p. 32-33.

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