A poesia de Oswald de Andrade encanta pelo gracioso de seus achados,
como no caso deste poema, a retratar a história do Brasil não do modo como a
lemos em obras de Boris Fausto ou Eduardo Bueno, senão de uma forma
caricatural.
Com efeito, aqui ancoraram barcas sem conta, de portugueses, de
jesuítas, de donatários a quem foram concedidas as capitanias hereditárias, de
espanhóis, de holandeses, de invasores outros e de imigrantes – sobretudo
europeus e orientais. Barcas partiram em sentido contrário cheias de índios,
degradados e pau de tinta. E, ao final, resultou essa fusão étnica denominada “povo
brasileiro”...
J.A.R. – H.C.
Oswald de Andrade
(1890-1954)
História pátria
Lá vai uma barquinha
carregada de
Aventureiros
Lá vai uma barquinha
carregada de
Bacharéis
Lá vai uma barquinha
carregada de
Cruzes de Cristo
Lá vai uma barquinha
carregada de
Donatários
Lá vai uma barquinha
carregada de
Espanhóis
Paga prenda
Prenda os
espanhóis!
Lá vai uma barquinha
carregada de
Flibusteiros
Lá vai uma barquinha
carregada de
Governadores
Lá vai uma barquinha
carregada de
Holandeses
Lá vai uma barquinha
cheinha de índios
Outra de degradados
Outra de pau de tinta
Até que o mar inteiro
Se coalhou de
transatlânticos
E as barquinhas
ficaram
Jogando prenda côa
raça misturada
No litoral azul de
meu Brasil
Desembarque de Cabral em Porto Seguro
(Oscar Pereira da
Silva: pintor carioca)
Referência:
ANDRADE, Oswald. História pátria. In:
__________. Primeiro caderno do aluno de
poesia Oswald de Andrade. São Paulo, SP: Globo, 2005. p. 32-33.
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