Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 13 de novembro de 2016

Abu Al-Ala Al-Maarri - Versos Amargos

Anátemas que as religiões monoteístas lançam entre si: o poeta-filósofo se encontra numa encruzilhada sobre qual rumo dar à sua vida. Entre o nascer e o morrer, tudo são incertezas, mesmo à vista das religiões que apregoam o caráter absoluto de suas verdades...

Abu Al-Ala é todo suspicácia acerca das conjecturas da fé e, se assim o faz, é porque, decerto, os alicerces da razão e da prudência, em sua mente, superam a crença fundada em doutrinas ou dogmas religiosos.

J.A.R. – H.C.

Apreciação da Obra do Autor
por Mansour Challita

Abu Al-Ala Al-Maarri (974-1078) nasceu na pequena aldeia síria de Maarrat An-Numan. Tinha quatro anos quando a varíola vedou seus olhos para sempre. Mas mesmo cego, “via mais longe do que os outros homens”, afirma um de seus biógrafos. Graças ao seu gênio e a esforços constantes, tornou-se um dos homens mais cultos de sua época e um dos filósofos mais profundos de todos os tempos.
Sua principal obra em prosa, A Epístola do Perdão, é uma descrição burlesca das delícias e dos tormentos da vida no Além. Dante se inspirou nela na sua Divina Comédia.
Suas poesias estão reunidas em dois livros, o mais importante dos quais é Luzum Ma La lalzarn (Necessidade do que é Desnecessário), onde está condensado, num estilo brilhante e evocativo, o pensamento definitivo do poeta.
A filosofia de Abu Al-Ala se distingue pelo pessimismo, o cepticismo, a predominância dada à Razão sobre a Fé, uma luta agressiva contra a injustiça e a estupidez, e uma compaixão infinita para com todos os seres vivos. (CHALLITA, 1867, p. 262)

Abu Al-Ala Al-Maarri
(974-1078)

Versos Amargos

Erram todos: muçulmanos, cristãos, judeus,
Dois homens apenas formam a seita universal:
O homem inteligente, sem religião,
E o homem religioso, sem inteligência.

Nas suas igrejas, os cristãos recitam as Escrituras;
Nas suas sinagogas, os judeus salmodiam sua Thora,
Religiões que se tornaram simples seitas, todas iguais.
Cada credo lança o anátema sobre os adeptos dos outros credos.

Não escolhi nascer,
Não posso impedir que envelheça ou morra.
Que mais posso escolher?

As Três Religiões Monoteístas

Referência:

AL-MAARRI, Abu Al-Ala. Versos amargos. Tradução de Mansour Challita. In: CHALLITA, Mansour (Escolha, tradução e apresentação). As mais belas páginas da literatura árabe: amor, humorismo, sabedoria, espiritualidade. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1967. p. 263.

Nenhum comentário:

Postar um comentário