Por que não um belo soneto a divagar pela ideia de Deus? Onipresente em
todas as instâncias do mundo, pélagos, páramos, dentro de cada um de nós porque
o intuímos, na velhice ou na infância, aqui ou alhures.
A quintessência do ser, infinito, imortal, contemporâneo a todas as estações,
porque voragem na amplitude do eterno, a romper os limites das eras cronológicas:
um Deus assim seria um esforço de imaginação humana ou existiria de fato?
Perguntaria o vate maior da Bahia: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”...
J.A.R. – H.C.
António Corrêa d’Oliveira
(1878-1960)
Deus
Espírito do abismo e
das alturas,
Que em tudo quanto
vive se derrama:
Já luz esparsa, antes
de ser a chama!
Olhar, – sem olhos de
órbitas escuras!
Alma que deu sua alma
às pedras duras!
Amor tão desamado que
nos ama!
Gênio que inspira a
noite, e a treva inflama,
Desde as ondas às
verdes espessuras!
Centro e fusão de
todas as distâncias;
Velhice-mãe de todas
as infâncias;
E futuro de quanto
há-de morrer...
Possa a minh’alma
ver-te, um só segundo,
Presente e em ti, –
pretérito do mundo,
Infinito imortal do
verbo ser!
Em: “A Criação – Vida e história das
árvores” (1913)
Ele reina supremo para sempre
(Ruth Palmer: artista
escocesa)
Referência:
D’OLIVEIRA, António Corrêa. Deus. In: __________.
Antologia: I - Líricas. Prefácio de
Luís de Almeida Braga. Porto, PT: Livraria Tavares Martins, 1959. p. 156-157.
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