Girri, como Wallace Stevens, já se tornou presença frequente por estas
paragens. Tudo porque se trata, sem dúvida, de um dos melhores teóricos da arte
poética, cuja abordagem, sem maiores considerandos, declina em seus próprios
poemas.
O poeta, um fazedor de poemas, somente assim se contempla quando percebe
que o ato mesmo de redigir versos flui em sua vida como se arranque da natureza
fosse, qual uma rosa que se abre pelo próprio atributo de existir, exposta à
apreciação de seus predicados.
J.A.R. – H.C.
Alberto Girri
(1919-1991)
El poema como inestable
Estado, o materia, que
cuestiona
a través del poema,
¿vivimos
una vida que nos
pertenece,
o nos vive ella,
dependientes
de qué y cómo ella
rasguea y tañe en
nosotros?
Y entendiendo
que lo singular, casi
nuestro
único medio de
reconocernos,
queda en lo que
transcurre
del nacer al crecer, ser
sanos y enfermos, morirnos,
¿no es vital, asimismo,
lo ilusorio de lo
fijo, movernos
en seguimiento de lo
fijo, el poema
como vehículo, cerrado
y concluso,
para atesorar un
presente
sin detrás ni más
allá,
el poema, finjámoslo,
acosador de lo
inapresable,
obseso registro
de cuándo se abre la
rosa,
cuándo
cae pulverizada una
estrella,
cuándo
la hierba que pisamos
vuelve a enderezarse?
De comprender esto
el hacedor de poemas
lo es, deviene
un hacedor de poemas,
y en comprenderlo
apoya su afirmarse
por los poemas que
hace,
y la vislumbre
de que si no fuera
así sus cantos,
expresarían de él
sólo lo discorde,
y ninguna unidad, ni
siquiera
mostrándolo como el
gozoso, centelleante
predicado de sus
cantos.
En: “El motivo es el poema” (1976)
A Queda
(Morteza Katouzian:
artista iraniano)
O poema como instável
Estado, ou matéria,
que questiona
através do poema,
vivemos
uma vida que nos
pertence,
ou ela é que nos
vive,
dependentes
do que e como ela
dedilha e tange em
nós?
E entendendo
que o singular, quase
nosso
único meio de nos
reconhecer,
fica no que
transcorre
entre o nascer e o
crescer, sermos
sãos e doentes,
morrermos,
não será vital,
igualmente,
o ilusório do fixo,
nos movermos
em continuidade com o
fixo, o poema
como veículo, fechado
e concluído,
para entesourar um
presente
sem atrás nem além,
o poema, finjamo-lo,
acossador do
inapreensível,
obsessivo registro
de quando a rosa se
abre,
quando
uma estrela cai
pulverizada,
quando
a relva que pisamos
torna a se
endireitar?
Ao compreender isso
o fazedor de poemas o
é, torna-se
uma fazedor de
poemas,
e compreendendo-o
apoia seu afirmar-se
pelos poemas que faz,
e o vislumbre
de que se não fosse assim
seus cantos
expressariam dele só
o discorde,
e nenhuma unidade,
nem sequer
mostrando-o como o
gozoso, cintilante
predicado de seus
cantos.
Em: “O motivo é o poema” (1976)
Referência:
GIRRI, Alberto. El poema como inestable
/ O poema como instável. Tradução de Sérgio Alcides. In: MONTELEONE, Jorge;
HOLLANDA, Heloisa Buarque (Comps.). ARIJÓN, Teresa (Coord.). Puentes / Pontes. Antología bilingüe /
Antologia bilíngue. Poesía argentina y brasileña contemporánea / Poesia
argentina e brasileira contemporânea. 1. ed. Buenos Aires, AR: Fondo de Cultura
Económica, 2003. p. 146-147.
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