Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Cassiano Ricardo - O Gato Cinzento

O gato cinzento do poeta é como uma onça-anã, indolente, que já não sai à caça de suas presas, nem pervaga telhados ou mansardas em busca de parceiras que lhe permitam um pouco de prazer ao luar.

Gosta mesmo é de ficar cochilando a ronronar entre as almofadas dos divãs ou canapés, mal abrindo as pálpebras para contemplar o que há à volta com os seus olhos verdes: tornou-se, assim, um professor da tranquilidade e do silêncio.

J.A.R. – H.C.

Cassiano Ricardo
(1895-1974)

O Gato Cinzento

Ei-lo, quieto, a cismar, como em grave sigilo,
vendo tudo através a cor verde dos olhos,
onça que não cresceu, hoje é um gato tranquilo.
A sua vida é um “manso lago”, sem escolhos...

Não ama a lua, nem telhado a velho estilo.
De uma rica almofada entre os suaves refolhos,
prefere ronronar, em gracioso cochilo,
vendo tudo através a cor verde dos olhos.

Poderia ser mau, fosforescente espanto,
pequenino terror dos pássaros; no entanto,
se fez um professor de silêncio e virtude.

Gato que sonha assim, se algum dia o entenderdes,
vereis quanto é feliz uma alma que se ilude,
e olha a vida através a cor de uns olhos verdes.

Em: “A Flauta de Pã” (1918)

Gato Cinzento na Sombra
(Diane Hoeptner: pintora norte-americana)

Referência:

RICARDO, Cassiano. O gato cinzento. In: __________. Vamos caçar papagaios: 1928-1940. I - Poesias Completas. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1947. p. 13.
ö

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