Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 19 de novembro de 2016

José Hierro - Teoria e Alucinação de Dublin

O poeta teoriza sobre o fazer poético e a sua importância para preencher-nos de algum significado – se, de outro modo, não optarmos pela nostalgia ou pelo vinho –, caso nos dermos o tempo necessário para contemplar de modo sereno nossas vidas, por vezes saturada de ações que não passam de subterfúgios para... “matar o tempo”.

Ao recordar e imaginar as árvores de Dublin, Hierro preenche o seu próprio vazio, carente de nostalgia, vinho e ação. Mas o que vê, de fato, não é Dublin, a capital da Irlanda – conjecturada como pura “alucinação” –, senão Madrid, a sua própria cidade.

J.A.R. – H.C.

José Hierro
(1922-2002)

Teoría y Alucinación de Dublín

I. Teoría

Un instante vacío
de acción puede poblarse solamente
de nostalgia o de vino.
Hay quien lo llena de palabras vivas,
de poesía (acción
de espectros, vino con remordimiento).

Cuando la vida se detiene,
se escribe lo pasado o lo imposible
para que los demás vivan aquello
que ya vivió (o que no vivió) el poeta.
Él no puede dar vino,
nostalgia a los demás: sólo palabras.
Si les pudiese dar acción...

La poesía es como el viento,
o como el fuego, o como el mar.
Hace vibrar árboles, ropas,
abrasa espigas, hojas secas,
acuna en su oleaje los objetos
que duermen en la playa.

La poesía es como el viento,
o como el fuego, o como el mar:
da apariencia de vida
a lo inmóvil, a lo paralizado.
Y el leño que arde,
las conchas que las olas traen o llevan,
el papel que arrebata el viento,
destellan una vida momentánea
entre dos inmovilidades.

Pero los que están vivos,
los henchidos de acción,
los palpitantes de nostalgia o vino,
esos... felices, bienaventurados,
porque no necesitan las palabras,
como el caballo corre, aunque no sople el viento,
y vuela la gaviota, aunque esté seco el mar,
y el hombre llora, y canta,
proyecta y edifica, aun sin el fuego.

II. Alucinación

Me acuerdo de los árboles de Dublín.
(Imaginar y recordar
se superponen y confunden;
pueblan, entrelazados, un instante
vacío con idéntica emoción.
Imaginar y recordar...)

Me acuerdo de los árboles de Dublín...
Alguien los vive y los recuerdo yo.
De los árboles caen hojas doradas
sobre el asfalto de Madrid.
Crujen bajo mis pies, sobre mis hombros,
acarician mis manos,
quisieran exprimirme el corazón.
No sé si lo consiguen...

Imaginar y recordar...
Hay un momento que no es mío,
no sé si en el pasado, en el futuro,
si en lo imposible... Y lo acaricio, lo hago
presente, ardiente, con la poesía.

No sé si lo recuerdo o lo imagino.
(Imaginar y recordar me llenan
el instante vacío.)
Me asomo a la ventana.
Fuera no es Dublín lo que veo,
sino Madrid. Y, dentro, un hombre
sin nostalgia, sin vino, sin acción,
golpeando la puerta.

Es un espectro
que persigue a otro espectro del pasado:
el espectro del viento, de la mar,
del fuego – ya sabéis de qué hablo –, espectro
que pueda hacer que cante, hacer que vibre
su corazón, para sentirse vivo.

En: “Libro de las Alucinaciones” (1964)

Bewleys (Dublin) depois da chuva
(Olivia Hayes: pintora irlandesa)

Teoria e Alucinação de Dublin

I. Teoria

Um instante vazio
de ação pode ser povoado somente
por nostalgia ou vinho.
Há quem o preencha com palavras vivas,
de poesia (ação
de espectros, vinho com remorso).

Quando a vida se detém,
se escreve o passado ou o impossível
para que os demais vivam aquilo
que o poeta já viveu (ou que não viveu).
Ele não pode dar vinho,
nostalgia aos demais: apenas palavras.
Se lhes pudesse dar ação...

A poesia é como o vento,
ou como o fogo, ou como o mar.
Faz vibrar árvores, roupas,
abrasa espigas, folhas secas,
nina em seu marulho os objetos
que dormem na praia.

A poesia é como o vento,
ou como o fogo, ou como o mar:
dá aparência de vida
ao imóvel, ao paralisado.
E o lenho que arde,
as conchas que as ondas trazem ou levam,
o papel que o vento arrebata,
cintilam uma vida momentânea
entre duas imobilidades.

Porém os que estão vivos,
os cumulados por ação,
os que palpitam por nostalgia ou vinho,
esses... felizes, bem-aventurados,
porque não têm necessidade das palavras,
como o cavalo corre, mesmo que não sopre o vento,
e a gaivota voa, ainda que o mar esteja seco,
e o homem chora, e canta,
projeta e edifica, mesmo sem o fogo.

II. Alucinação

Lembro-me das árvores de Dublin.
(Imaginar e recordar
se superpõem e confundem;
povoam, entrelaçados, um instante
vazio com idêntica emoção.
Imaginar e recordar...)

Lembro-me das árvores de Dublin.
Alguém as vive e eu as recordo.
Das árvores caem folhas douradas
sobre o asfalto de Madrid.
Farfalham sob meus pés, sobre meus ombros,
acariciam minhas mãos,
talvez quisessem oprimir-me o coração
Não sei se o conseguem...

Imaginar e recordar...
Há um momento que não é meu,
não sei se no passado, no futuro,
se no impossível... Eu o acaricio, faço-o
presente, ardente, com a poesia.

Não sei se o recordo ou o imagino.
(Imaginar e recordar preenchem-me
o instante vazio.)
Projeto-me à janela.
Fora não é Dublin o que vejo,
senão Madrid. E, dentro, um homem
sem nostalgia, sem vinho, sem ação,
batendo a porta.

Em: “Livro das Alucinações” (1964)

Referência:

HIERRO, José. Teoría y alucinación de Dublín. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Sellección, estudio y notas). Poesia española contemporánea: historia y antología (1939-1980). 1. ed. Madrid (ES): Editorial Alhambra, 1981. p. 234-236.

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