Neste soneto elisabetano, a norte-americana de origem judaica Emma Lazarus
relembra o poeta Heinrich Heine, alemão também de origem judaica, a se lamentar,
aos pés da Vênus de Milo, no Louvre em Paris, pela sua terminal incapacidade de
amar.
Sob as lentes do feminismo e do judaísmo, Lazarus contempla neste soneto
a deusa nascida da espuma do amor, transfixada em pedra, agora mutilada pela
ação do tempo, num êxtase ao mesmo tempo estético e espiritual.
J.A.R. – H.C.
Emma Lazarus
(1849-1887)
Venus of the
Louvre
Down the long hall she glistens like a star,
The foam-born mother of Love, transfixed to stone,
Yet none the less immortal, breathing on.
Time’ brutal hand hath maimed but could not mar.
When first the enthralled enchantress from afar
Dazzled mine eyes, I saw not her alone,
Serenely poised on her world-worshipped throne,
As when she guided once her dove-drawn car, −
But at her feet a pale, death-stricken Jew,
Her life adorer, sobbed farewell to love.
Here Heine wept! Here still he weeps anew,
Nor ever shall his shadow lift or move,
While mourns one ardent heart, one poet-brain,
For vanished Hellas and Hebraic pain.
Vênus de Milo
(Louvre - Paris)
Vênus do Louvre
No fundo do salão
imenso,
qual estrela, ela cintila,
a mãe do amor,
nascida da espuma e transmutada
em pedra.
Imortal, ainda
respira.
Sem poder
desfigurá-la,
mutilou-a
a mão brutal do
tempo.
Quando a vi pela
primeira vez,
de longe, a
feiticeira deslumbrou-me a vista
E eu não a vi
sozinha, serenamente pousada
no trono do seu culto
universal,
guiando, como
outrora,
o seu carro tirado
pelas pombas.
Vi aos seus pés um
pálido judeu,
adorador fiel, de toda
a vida,
ferido de morte,
soluçando adeus ao
amor!
Aqui chorou Heine!
Aqui
continuará chorando
eternamente.
Ficará neste lugar a
sombra dele,
enquanto houver um
coração ardente e um
cérebro de poeta
que chore Helena
desaparecida
e a mágoa de Israel.
Referências:
Em Inglês
LAZARUS, Emma. Venus of the Louvre. In: STEDMAN, Edmund Clarence (Ed.). An American Anthology: 1787–1900. Selections
Illustrating the Editor’s Critical Review of American Poetry in the Nineteenth
Century. Sixth Impression. Boston and New York: Houghton, Mifflin and Company,
1900. p. 519.
Em Português
LAZARUS, Emma. Vênus do Louvre. Tradução de Carlos Ortiz. In: GUINSBURG,
J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São
Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 195. (Coleção “Judaica”; v. 12)
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