Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Emma Lazarus - Vênus do Louvre

Neste soneto elisabetano, a norte-americana de origem judaica Emma Lazarus relembra o poeta Heinrich Heine, alemão também de origem judaica, a se lamentar, aos pés da Vênus de Milo, no Louvre em Paris, pela sua terminal incapacidade de amar.

Sob as lentes do feminismo e do judaísmo, Lazarus contempla neste soneto a deusa nascida da espuma do amor, transfixada em pedra, agora mutilada pela ação do tempo, num êxtase ao mesmo tempo estético e espiritual.

J.A.R. – H.C.

Emma Lazarus
(1849-1887)

Venus of the Louvre

Down the long hall she glistens like a star,
The foam-born mother of Love, transfixed to stone,
Yet none the less immortal, breathing on.
Time’ brutal hand hath maimed but could not mar.
When first the enthralled enchantress from afar
Dazzled mine eyes, I saw not her alone,
Serenely poised on her world-worshipped throne,
As when she guided once her dove-drawn car, −
But at her feet a pale, death-stricken Jew,
Her life adorer, sobbed farewell to love.
Here Heine wept! Here still he weeps anew,
Nor ever shall his shadow lift or move,
While mourns one ardent heart, one poet-brain,
For vanished Hellas and Hebraic pain.

Vênus de Milo
(Louvre - Paris)

Vênus do Louvre

No fundo do salão imenso,
qual estrela, ela cintila,
a mãe do amor, nascida da espuma e transmutada
em pedra.

Imortal, ainda respira.
Sem poder desfigurá-la,
mutilou-a
a mão brutal do tempo.

Quando a vi pela primeira vez,
de longe, a feiticeira deslumbrou-me a vista
E eu não a vi sozinha, serenamente pousada
no trono do seu culto universal,
guiando, como outrora,
o seu carro tirado pelas pombas.

Vi aos seus pés um pálido judeu,
adorador fiel, de toda a vida,
ferido de morte,
soluçando adeus ao amor!

Aqui chorou Heine! Aqui
continuará chorando eternamente.
Ficará neste lugar a sombra dele,
enquanto houver um coração ardente e um
cérebro de poeta
que chore Helena desaparecida
e a mágoa de Israel.

Referências:

Em Inglês

LAZARUS, Emma. Venus of the Louvre. In: STEDMAN, Edmund Clarence (Ed.). An American Anthology: 1787–1900. Selections Illustrating the Editor’s Critical Review of American Poetry in the Nineteenth Century. Sixth Impression. Boston and New York: Houghton, Mifflin and Company, 1900. p. 519.

Em Português

LAZARUS, Emma. Vênus do Louvre. Tradução de Carlos Ortiz. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. São Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 195. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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