Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Públio Ovídio Naso - O Homem

Em sua obra-prima, aclamada e influente até os dias de hoje, o poeta latino descreve o enredo mitológico da criação do homem, de forma muito distinta, é claro, da metáfora bíblica do livro do Gênesis.

Ovídio destaca o fato de o homem, diversamente ao que ocorre com os outros animais – os quais, segundo ele, têm o rosto voltado para a terra –, volta-se para o alto, em direção ao céu e seus outros astros, tencionando desse modo afirmar a insigne sorte que lhe fora dispensada pelos deuses.

J.A.R. – H.C.

Públio Ovídio Naso
(43 a.C - 17/18 d.C.)

Homo

Sanctius his animal mentisque capacius altae
deerat adhuc et quod dominari in cetera posset.
Natus homo est; siue diuino semine fecit
ille opifex rerum, mundi melioris origo,
siue recens tellus seductaque nuper ab alto
aethere cognati retinebat semina caeli;
quam satus Iapeto mixtam pluuialibus undis
finxit in effigiem moderantum cuncta Deorum;
pronaque cum spectent animalia cetera terram,
os homini sublime dedit caelumque tueri
iussit et erectos ad sidera tollere uultus.
Sic, modo quae fuerat rudis et sine imagine, tellus
induit ignotas hominum conuersa figuras.

In: “Metamorphoseon” (8 d.C.)

Prometeu Doa o Fogo à Humanidade
(Heinrich Friedrich Füger: pintor alemão)

O Homem

Um animal mais santo que esses e mais capaz de
um espírito profundo,
e que pudesse dominar os outros, faltava até então.
Nasceu o homem. Ou o fez com a semente divina
aquele obreiro das coisas, origem de um mundo melhor,
ou a terra, nova e recentemente desviada do alto
éter, retinha sementes do irmão, o céu.
Essa terra, misturada com águas das chuvas, o filho
de Jápeto (*)
modelou à imagem dos Deuses que tudo mantêm
nas medidas.
Enquanto os outros animais, inclinados, olham a terra,
deu ao homem um rosto que se volta para o alto
e ordenou-lhe
ver o céu; e a face erguida, elevá-la aos astros.
Assim, a terra que, havia pouco, fora tosca e informe,
alterada, assumiu desconhecidas figuras humanas.

Em: “Metamorfoses” (8 d.C.)

Nota:

Jápeto - Filho incestuoso de Urano, o céu estrelado, e Gaia, a Terra; o rebento de Jápeto a que o poeta se refere é Prometeu, criador dos homens e doador do fogo à humanidade.

Referência:

NASO, Públio Ovídio. Homo / O homem. Tradução de Maria da Gloria Novak. In: NOVAK, Maria da Gloria; NERY, Maria Luiza (Orgs.). Poesia lírica latina. Edição bilíngue. 2. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1992. Em latim: p. 218 e 220; em português: p. 219 e 221.

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