O poeta contempla tudo o que lhe traz alegrias, no âmbito da natureza, e
projeta um futuro no qual seu espírito errará nostálgico pelas mesmas paragens,
singularmente belas, por onde agora descansa a vista.
Jiménez, Nobel de Literatura em 1956, muito jovem já se preocupava com a
morte, e o faz com uma linguagem bastante plástica, visual e melódica, imergindo-nos
numa atmosfera em que somos confrontados com a ideia de um universo
transcendente.
J.A.R. – H.C.
Juan Ramón Jiménez
(1881-1958)
El Viaje Definitivo
Y yo me iré. Y se
quedarán los pájaros
cantando.
Y se quedará mi
huerto con su verde árbol,
y con su pozo blanco.
Todas las tardes el
cielo será azul y plácido,
y tocarán, como esta
tarde están tocando,
las campanas del
campanario.
Se morirán aquellos
que me amaron
y el pueblo se hará
nuevo cada año;
y lejos del bullicio
distinto, sordo, raro
del domingo cerrado,
del coche de las
cinco, de las siestas del baño,
en el rincón secreto
de mi huerto florido y encalado,
mi espíritu de hoy
errará, nostáljico...
Y yo me iré, y seré
otro, sin hogar, sin árbol
verde, sin pozo
blanco,
sin cielo azul y
plácido...
Y se quedarán los
pájaros cantando.
En: “Poemas agrestes” (1910-1911)
Jardim com Poço dos Desejos
(David Paul: pintor
norte-americano)
A Viagem Definitiva
Ir-me-ei embora. E
ficarão os pássaros
Cantando...
E ficará o meu jardim
com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu
será azul e plácido,
E tocarão, como esta
tarde estão tocando,
Os sinos do
campanário.
Morrerão os que me
amaram
E a aldeia se
renovará todos os anos.
E longe do bulício
distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das
cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto de
meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje
errará nostálgico....
E ir-me-ei embora, e
serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço
branco,
Sem céu azul e
plácido...
E os pássaros ficarão
cantando.
Em: “Poemas agrestes” (1910-1911)
Referências:
Em Espanhol
JIMÉNEZ, Juan Ramon. El viaje
definitivo. In: MUÑOZ, Antonio Mateos. Para
una antología del post. 1. ed. Madrid, ES: Cultiva, 2009. p. 60. (Colección
“Cultiva”; n. 101)
Em Português
JIMÉNEZ, Juan Ramón. A viagem
definitiva. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de
Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 181. (Coleção ‘Rubáiyát’)
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