O poeta carioca, já nas paragens da poesia modernista, ironiza as
criações dos poetas da escola parnasiana, defensores dos versos perfeitos e alexandrinos,
os quais seriam extensos e dificultosos em sua estrutura, como elefantes que,
pelos corpos imensos e pesados, tendem à lentidão de movimentos.
Para contrapô-los, Carvalho propõe a leveza, a agilidade e a liberdade
dos versos modernistas, para ele “muito mais interessantes” que os “negros e
tardos elefantes” que, à época, ainda teimavam em singrar os mares da literatura
brasileira.
J.A.R. – H.C.
Ronald de Carvalho
(1893-1935)
Literatura
Como são lindos os
teus alexandrinos,
que lindos são,
solenes, elegantes...
“Sob o vivo clarão
dos poentes purpurinos,
Passam, movendo a
tromba, os tardos elefantes”
São perfeitos os teus
alexandrinos!
Mas como têm mais
graça as asas dessa abelha,
ou essa fúlvida
centelha
que turbilhona sem
parar!
Como são muito mais
interessantes
que aqueles negros,
inúteis elefantes,
esses pares de
andorinhas que volteiam
em curvas longas,
lentas pelo ar...
Poeta, que lindos são
os teus alexandrinos
perfilados, solenes,
elegantes...
“Sob o vivo clarão
dos poentes purpurinos,
Passam, movendo a
tromba, os tardos elefantes...”
De: “Epigramas Irônicos e Sentimentais”
(1922)
Par de Pássaros Azul-turquesa
(Joanna Charlotte:
artista inglesa)
Referência:
CARVALHO, Ronald de. Literatura. In:
TORRES, Alexandre Pinheiro (Seleção, Introdução e Notas). Antologia da poesia brasileira: os modernistas. v. III. Porto, PT:
Livraria Chardron de Lello & Irmão Editores, 1984. p. 20-21.
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