Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de outubro de 2016

Duda Machado - Morto-vivo

Em “Morto-vivo”, tem-se um tipo de poesia com pronunciado componente teorizador, a partir de uma expressão que, uma vez escrita, torna explícita a junção de duas palavras com conteúdo antitético, distantes, portanto, no significado.

Como palavra composta que é, somente se depreende a sua noção quando ela se desamarra do branco da página, para se materializar como um “zumbi”, ou mesmo muitos “zumbis”, a habitar o universo incomensurável dos livros!

J.A.R. – H.C.

Avaliação da Obra do Autor
por Manuel da Costa Pinto (2006, p. 256-257)

Com uma trajetória que começa com a Tropicália – movimento mais conhecido no âmbito da música popular (...) –, o autor de Zil (1977) também manteve afinidades profundas com as ideias dos concretos, produzindo poesia visual e adotando uma dicção mais experimental, marcada pela dissolução da sintaxe e pela montagem de palavras. Pode-se dizer, porém, que é com Margem de uma Onda que o escritor baiano (...) consolida uma voz própria, na qual explora a tensão entre as palavras e as coisas, entre o mundo que se oferece à visão e sua apreensão por um olhar que lhe impõe uma medida e uma disciplina. É como se, após conquistar a autonomia da palavra como um puro objeto lançado no espaço-tempo (segundo a lição dos concretos), o poeta se voltasse para realidades empíricas, extratextuais, identificando ali uma espécie de poética das coisas. (...)
Principais Obras: Zil (1977), Um Outro (1990) – reunidos no volume Crescente (Duas Cidades, 1990) –, Margem de Uma Onda (Editora 34, 1997), Histórias com Poesia, Alguns Bichos & Cia. (Editora 34, 2000).

Duda Machado
(n. 1944)

Morto-vivo

Há na expressão morto-vivo
uma certa maleabilidade
a desdobrar-se até o predomínio
exíguo de um termo sobre o outro,
ou uma distância qualquer entre
eles, a partir de sua ligação.

Dá para imaginar também,
leitor, esta expressão no centro
de uma página; avulsa sobre
o branco. E, de dentro para
fora da página, alguém
a percorrer aquela distância
qualquer. Ou mesmo muitos.
Aí seria preciso páginas
e mais páginas. Ou livros
e mais livros.

Em: Revista “Colóquio Letras”,
nº 157/158 (jul-dez/2000)

Terraço de Hotel
(Jules Pages: pintor norte-americano)

Referência:

MACHADO, Duda. Morto-vivo. In: PINTO, Manuel da Costa (Seleção e organização). Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo, SP: Publifolha, 2006. p. 254.

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