Embora migrem, posteriormente, por distintos desenvolvimentos, as linhas
introdutórias deste poema de Ronsard – dedicado a Hélène de Surgères, como
todos os outros de “Sonnets pour Hélène”, depois que esta perdeu o amante
vitimado em guerra –, são muito semelhantes às do poema do irlandês W. B.
Yeats, que aqui postamos.
E porque Helena, como não associar o seu encanto ao da heroína da Guerra
de Troia? Afinal, tudo é válido na poesia, esse resíduo de fragrância
convertido em beleza, por uma prática de vidência do poeta, como diria Rimbaud.
J.A.R. – H.C.
Pierre de Ronsard
(1524-1585)
Pintura de autor
desconhecido
Sonnet pour Hélène
Quand vous serez bien
vieille, au soir à la chandelle,
Assise aupres du feu, dévidant et filant,
Direz chantant mes vers, en vous esmerveillant:
Ronsard me celebroit
du temps que j’éstois belle.
Lors vous n’aurez servante oyant telle nouvelle,
Desja sous le labeur à demy sommeillant,
Qui au bruit de mon nom ne s’aille resveillant,
Benissant votre nom
de louange immortelle.
Je seray sous la
terre et fantôme sans os
Par les ombres
myrteux je prendray mon repos;
Vous serez au fouyer une vieille accroupie,
Regrettant mon amour et vostre fier desdain.
Vivez, si m’en
croyez, n’attendez à demain:
Cueillez dès aujourdhuy
les roses de la vie.
Flores em Vaso de Vidro
(Rachel Ruysch: pintora
holandesa)
Soneto a Helena
Quando fores bem
velha, à noite, à luz da vela,
Junto ao fogo do lar,
dobando o fio e fiando,
Dirás, ao recitar
meus versos e pasmando:
Ronsard me celebrou
no tempo em que fui bela.
E entre as servas
então não há de haver aquela
Que, já sob o labor
do dia dormitando,
Se o meu nome escutar
não vá logo acordando
E abençoando o
esplendor que o teu nome revela.
Sob a terra eu irei, fantasma
silencioso,
Entre as sombras sem
fim procurando repouso:
E em tua casa irás,
velhinha combalida,
Chorando o meu amor e
o teu cruel desdém.
Vive sem esperar pelo
dia que vem;
Colhe hoje, desde já,
colhe as rosas da vida.
Referência:
RONSARD, Pierre de. Sonnet pour Hélène
/ Soneto a Helena. Tradução de Guilherme de Almeida. In: ALMEIDA, Guilherme de
(Seleção e tradução). Poetas de França.
Prefácio de Marcelo Tápia. 5. ed. São Paulo, SP: Babel, 2011. Em francês: p. 26;
em português: p. 27.
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