Um Dom Pedro II desiludido das vaidades deste mundo, talvez já no exílio
em Paris – onde veio a falecer –, escreveu este soneto, com explícita alusão à célebre
passagem do Gênesis que nos alerta que somos pó e ao pó haveremos de retornar,
assim como à saudade do seu distante Brasil.
É bom que se saiba: Pedro II era um erudito e foi benquisto de gente
renomada no cenário internacional de sua época, como o escritor francês Victor
Hugo, o compositor alemão Richard Wagner e o cientista Louis Pasteur.
J.A.R. – H.C.
Dom Pedro de Alcântara
(1825-1891)
Cárcere de Argila
Deus, que os orbes
regulas esplendentes
em número e medida
ponderados,
neles abrigo dás aos
desterrados,
que se vão suspirosos
e plangentes.
Assim, dos céus às
vastidões silentes
ergo os meus pobres
olhos fatigados,
indagando em que
mundos apartados
lenitivo à saudade
nos consentes.
Breve, Senhor, do
cárcere d’argila
hei de evolar-me,
murmurando ansioso
tímida prece: digna-Te
de ouvi-la!
Põe-me ao pé do
Cruzeiro majestoso,
que no antártico céu
vivo cintila,
fitando sempre o meu
Brasil saudoso!
Omnia Vanitas
(Pieter Boel: pintor
flamengo)
Referência:
ALCÂNTARA, Dom Pedro de. Cárcere de argila. In: BUENO, Silveira.
Páginas floridas. 4. série. 3. ed.
São Paulo, SP: Saraiva & Cia. Editores, jan.1941. p. 430.
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Soneto lindíssimo, perfeito em rimas e métrica. Demonstra o sentimento desse grande homem D. Pedro II, a tristeza e a saudade do seu país natal. Muito triste.
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