Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Dom Pedro de Alcântara - Cárcere de Argila

Um Dom Pedro II desiludido das vaidades deste mundo, talvez já no exílio em Paris – onde veio a falecer –, escreveu este soneto, com explícita alusão à célebre passagem do Gênesis que nos alerta que somos pó e ao pó haveremos de retornar, assim como à saudade do seu distante Brasil.

É bom que se saiba: Pedro II era um erudito e foi benquisto de gente renomada no cenário internacional de sua época, como o escritor francês Victor Hugo, o compositor alemão Richard Wagner e o cientista Louis Pasteur.

J.A.R. – H.C.

Dom Pedro de Alcântara
(1825-1891)

Cárcere de Argila

Deus, que os orbes regulas esplendentes
em número e medida ponderados,
neles abrigo dás aos desterrados,
que se vão suspirosos e plangentes.

Assim, dos céus às vastidões silentes
ergo os meus pobres olhos fatigados,
indagando em que mundos apartados
lenitivo à saudade nos consentes.

Breve, Senhor, do cárcere d’argila
hei de evolar-me, murmurando ansioso
tímida prece: digna-Te de ouvi-la!

Põe-me ao pé do Cruzeiro majestoso,
que no antártico céu vivo cintila,
fitando sempre o meu Brasil saudoso!

Omnia Vanitas
(Pieter Boel: pintor flamengo)

Referência:

ALCÂNTARA, Dom Pedro de. Cárcere de argila. In: BUENO, Silveira. Páginas floridas. 4. série. 3. ed. São Paulo, SP: Saraiva & Cia. Editores, jan.1941. p. 430.

Um comentário:

  1. Soneto lindíssimo, perfeito em rimas e métrica. Demonstra o sentimento desse grande homem D. Pedro II, a tristeza e a saudade do seu país natal. Muito triste.

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