Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de outubro de 2016

Charles Tomlinson - Arte Poética

Tomlinson, poeta inglês, nos propõe mais uma visão do que seja a arte poética, a atribuir especial atenção à dimensão pictórica e objetiva de paisagens, cenas e personagens, sem muita abertura para fluxos confessionais ou estados emocionais.

Moderação é a palavra-chave: na poesia, “as proporções contam”. Sob tal orientação, e se nos fosse permitido empregar associação para ilustrar tal prudência, elegeríamos aquela cena de “Amadeus”, de Milos Forman (1984), na qual o Imperador Joseph II censura a Mozart o excesso de notas musicais em suas composições ultrarrendilhadas.

J.A.R. – H.C.

Charles Tomlinson
(1927-2015)

The Art of Poetry

At first, the mind feels bruised.
The light makes white holes through the black foliage
Or mist hides everything that is not itself.

But how shall one say so? −
The fact being, that when the truth is not good enough
We exaggerate. Proportions

Matter. It is difficult to get them right.
There must be nothing
Superfluous, nothing which is not elegant
And nothing which is if it is merely that.

This green twilight has violet borders.

Yellow butterflies
Nervously transferring themselves
From scarlet to bronze flowers
Disappear as the evening appears.

Borboleta Amarela sobre Tremoceiros
(Ginette Callaway: pintora francesa)

Arte Poética

A mente no início sente contusões.
A luz abre frestas brancas na folhagem negra
ou a bruma oculta tudo salvo a si mesma.

Como dizê-lo? –
é um fato que, quando a verdade não é boa o bastante,
nós exageramos. As proporções

contam. Não é fácil acertá-las.
Nada cabe
de supérfluo, que não seja elegante,
nada que seja apenas o que for.

Esse crepúsculo verde tem orlas violetas.

Borboletas amarelas
transferindo-se nervosas
da flor vermelha à cor-de-bronze
somem conforme surge o entardecer.

Referência:

TOMLINSON, Charles. The art of poetry / Arte poética. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 164; em português: p. 165. (Coleção ‘Lazuli’)

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