Considerado pela Revista Bula como
um dos dez melhores poemas dos últimos duzentos anos, a partir de enquete com
três mil autores brasileiros e estrangeiros, este poema de Eliot sugere que, se
os homens ocos representam todo o gênero humano, são eles incapazes de
interagir entre si de modo satisfatório, bem assim com a espiritualidade
transcendental, vista como último meio de remição.
O poema revela um quadro de tenso desalento ou apatia, de vacuidade
aguda e desesperada, pleno de alusões, imaginação simbólica e estados de
autorrevelação,
entre um luminoso coração dantesco e um sombrio coração conradiano. A par disso, sobressai as onipresentes ambiguidade e ironia,
marcas das criações poéticas de Eliot.
J.A.R. – H.C.
T. S. Eliot
(1888-1965)
The Hollow Men
Mistah Kurtz - he dead.
Mistah Kurtz - he dead.
A penny for the
Old Guy
I
We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar
Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;
Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us − if at all − not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.
II
Eyes I dare not meet in dreams
In death’s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind’s singing
More distant and more solemn
Than a fading star.
Let me be no nearer
In death’s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat’s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer −
Not that final meeting
In the twilight kingdom
III
This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man’s hand
Under the twinkle of a fading star.
Is it like this
In death’s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.
IV
The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river
Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death’s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.
V
Here we go
round the prickly pear
Prickly pear
prickly pear
Here we go
round the prickly pear
At five o’clock
in the morning.
Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is
the Kingdom
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very
long
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is
the Kingdom
For Thine is
Life is
For Thine is the
This is the way
the world ends
This is the way
the world ends
This is the way
the world ends
Not with a bang
but a whimper.
(1925)
Bebendo à Mesa
(Theodoor Rombouts:
pintor flamengo)
Os Homens Ocos
Mistah Kurtz - he dead.
Mistah Kurtz - he dead.
A penny for the
Old Guy
I
Nós somos os homens
ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros
amparados
O elmo cheio de nada.
Ai de nós!
Nossas vozes
dessecadas,
Quando juntos
sussurramos,
São quietas e
inexpressas
Como o vento na relva
seca
Ou pés de ratos sobre
cacos
Em nossa adega
evaporada
Fôrma sem forma,
sombra sem cor
Força paralisada,
gesto sem vigor;
Aqueles que
atravessaram
De olhos retos, para
o outro reino da morte
Nos recordam – se o
fazem – não como violentas
Almas danadas, mas
apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
II
Os olhos que temo
encontrar em sonhos
No reino de sonho da
morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como
a lâmina
Do sol nos ossos de
uma coluna
Lá, uma árvore brande
os ramos
E as vozes estão no
frêmito
Do vento que está
cantando
Mais distantes e
solenes
Que uma estrela
agonizante.
Que eu demais não me
aproxime
Do reino de sonho da
morte
Que eu possa trajar
ainda
Esses tácitos
disfarces
Pele de rato, plumas
de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num
campo
Como o vento se
comporta
Nem mais um passo
– Não este encontro
derradeiro
No reino crepuscular
III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do
cacto
Aqui as imagens de
pedra
Estão eretas, aqui elas
recebem
A súplica da mão de
um morto
Sob o lampejo de uma
estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da
morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que
beijariam
Rezam a pedras
quebradas.
IV
Os olhos não estão
aqui
Aqui os olhos não
brilham
Neste vale de
estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em
ruínas de nossos reinos perdidos
Neste último sítio de
encontros
Juntos tateamos
Todos esquivos à fala
Reunidos na praia do
túrgido rio
Sem nada ver, a não
ser
Que os olhos
reapareçam
Como a estrela
perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras
da morte
A única esperança
De homens vazios.
V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um gemido.
(1925)
Referências:
Em Inglês
ELIOT, T. S. The hollow men. In: PARINI, Jay (Ed.). The wadsworth anthology of poetry. Boston, MA: Thomson Wadsworth,
2006. p. 211-214.
Em Português
ELIOT, T. S. Os homens ocos. Tradução
de Ivan Junqueira. In: __________. Poesia.
Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Apresentação de Affonso Romano
de Sant’Anna. Edição Especial. Texto Integral. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 2014. p. 135-138. (Coleção ‘Saraiva de Bolso’)
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elmos cheios de nada o nada da ganancia o nada das mutilacoes das vaidades em busca de significados que a consciencia busca resolver debalde
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