Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de outubro de 2016

T. S. Eliot - Os Homens Ocos

Considerado pela Revista Bula como um dos dez melhores poemas dos últimos duzentos anos, a partir de enquete com três mil autores brasileiros e estrangeiros, este poema de Eliot sugere que, se os homens ocos representam todo o gênero humano, são eles incapazes de interagir entre si de modo satisfatório, bem assim com a espiritualidade transcendental, vista como último meio de remição.

O poema revela um quadro de tenso desalento ou apatia, de vacuidade aguda e desesperada, pleno de alusões, imaginação simbólica e estados de autorrevelação, entre um luminoso coração dantesco e um sombrio coração conradiano. A par disso, sobressai as onipresentes ambiguidade e ironia, marcas das criações poéticas de Eliot.

J.A.R. – H.C.

T. S. Eliot
(1888-1965)

The Hollow Men

Mistah Kurtz - he dead.
A penny for the Old Guy

I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats’ feet over broken glass
In our dry cellar
   
Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;
   
Those who have crossed
With direct eyes, to death’s other Kingdom
Remember us − if at all − not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.
   
II

Eyes I dare not meet in dreams
In death’s dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind’s singing
More distant and more solemn
Than a fading star.
   
Let me be no nearer
In death’s dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat’s coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer −
   
Not that final meeting
In the twilight kingdom

III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man’s hand
Under the twinkle of a fading star.
   
Is it like this
In death’s other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.
   
IV

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
   
In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river
   
Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death’s twilight kingdom
The hope only
Of empty men.

V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o’clock in the morning.
   
Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
    
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
Life is very long
   
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
For Thine is the Kingdom
   
For Thine is
Life is
For Thine is the
   
This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.

(1925)

Bebendo à Mesa
(Theodoor Rombouts: pintor flamengo)

Os Homens Ocos

Mistah Kurtz - he dead.
A penny for the Old Guy

I

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

– Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui elas recebem
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam a pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos esquivos à fala
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um gemido.

(1925)

Referências:

Em Inglês

ELIOT, T. S. The hollow men. In: PARINI, Jay (Ed.). The wadsworth anthology of poetry. Boston, MA: Thomson Wadsworth, 2006. p. 211-214.

Em Português

ELIOT, T. S. Os homens ocos. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poesia. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Apresentação de Affonso Romano de Sant’Anna. Edição Especial. Texto Integral. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2014. p. 135-138. (Coleção ‘Saraiva de Bolso’)

Um comentário:

  1. elmos cheios de nada o nada da ganancia o nada das mutilacoes das vaidades em busca de significados que a consciencia busca resolver debalde

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