A poesia como um vislumbre de iluminação, antídoto a venenos, gritos no
silêncio. A poesia enquanto conteúdo na distinta voz da cantora de música ‘folk’
norte-americana Joan Baez, na qualidade de elo definitivo entre tudo o que é vivo
e o que, por fim, adormece...
O poeta baiano divisa, assim, a poesia como força integradora de opostos,
pois nela tudo imerge e dela tudo irrompe, qual potência criativa de um “big
bang”, a gerar um universo de sentidos e de possibilidades verbais.
J.A.R. – H.C.
Roberval Pereyr
(n. 1953)
A Poesia
É um corte de luz no
olho
do cego, um destino
acima
do homem.
Tece e desfia o
eterno, veludo
na tez dos mortos –
despertos.
Encontro de
primaveras, a poesia,
enraizada nas lamas,
cresce
– nos braços nus do
mendigo, na voz
de Joan Baez, no
silêncio das janelas
abertas.
É a fome que rompe as
eras,
que despe os deuses,
que se enovela
no ventre esconso da
morte
– e gera:
antídoto nos venenos,
revolta nas guerras,
gritos no silêncio;
esperas, esperas...
A poesia: braço
amorfo indomável
no cerne da terra, na
mão que se ergue
desesperada:
espada e forças na
mesma espada.
Nela tudo imerge;
dela tudo explode:
a poesia é o elo mais
definitivo
entre o que é vivo –
e o que dorme...
De: “As Roupas do Nu” (1981)
Bolhas de Sabão
(Jean-Baptiste S.
Chardin: pintor francês)
Referência:
PEREYR, Roberval. A poesia. In: __________. Amálgama: nas praias do avesso e poesia anterior. Salvador, BA: Secretaria da
Cultura e Turismo & Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2004. p. 211.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário