Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Roberval Pereyr - A Poesia

A poesia como um vislumbre de iluminação, antídoto a venenos, gritos no silêncio. A poesia enquanto conteúdo na distinta voz da cantora de música ‘folk’ norte-americana Joan Baez, na qualidade de elo definitivo entre tudo o que é vivo e o que, por fim, adormece...

O poeta baiano divisa, assim, a poesia como força integradora de opostos, pois nela tudo imerge e dela tudo irrompe, qual potência criativa de um “big bang”, a gerar um universo de sentidos e de possibilidades verbais.

J.A.R. – H.C.

Roberval Pereyr
(n. 1953)

A Poesia

É um corte de luz no olho
do cego, um destino acima
do homem.

Tece e desfia o eterno, veludo
na tez dos mortos – despertos.
Encontro de primaveras, a poesia,
enraizada nas lamas, cresce
– nos braços nus do mendigo, na voz
de Joan Baez, no silêncio das janelas
abertas.
É a fome que rompe as eras,
que despe os deuses, que se enovela
no ventre esconso da morte
– e gera:
antídoto nos venenos, revolta nas guerras,
gritos no silêncio; esperas, esperas...
A poesia: braço amorfo indomável
no cerne da terra, na mão que se ergue
desesperada:
espada e forças na mesma espada.

Nela tudo imerge; dela tudo explode:
a poesia é o elo mais definitivo
entre o que é vivo – e o que dorme...

De: “As Roupas do Nu” (1981)

Bolhas de Sabão
(Jean-Baptiste S. Chardin: pintor francês)

Referência:

PEREYR, Roberval. A poesia. In: __________. Amálgama: nas praias do avesso e poesia anterior. Salvador, BA: Secretaria da Cultura e Turismo & Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2004. p. 211.

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