O poeta ‘beat’ afirma que o peso do mundo é o amor. Um amor que se
manifesta, antes de tudo, corporalmente, carnalmente, nos corpos quentes,
depois de transitar, como um milagre, na imaginação.
Esse amor arde de pureza nas imediações do coração, logrando atenuar os
fardos da solidão e da insatisfação, numa voragem de sonho, quer o autor esteja
louco ou frio, obcecado por anjos ou por máquinas...
J.A.R. – H.C.
Allen Ginsberg
(1926-1997)
Song
The weight of the world
is love.
Under the burden
of solitude,
under the burden
of dissatisfaction
the weight,
the weight we carry
is love.
Who can deny?
In dreams
it touches
the body,
in thought
constructs
a miracle,
in imagination
anguishes
till born
in human −
looks out of the heart
burning with purity −
for the burden of life
is love,
but we carry the weight
wearily,
and so must rest
in the arms of love
at last,
must rest in the arms
of love.
No rest
without love,
no sleep
without dreams
of love −
be mad or chill
obsessed with angels
or machines,
the final wish
is love
− cannot be bitter,
cannot deny,
cannot withhold
if denied:
the weight is too heavy
− must give
for no return
as thought
is given
in solitude
in all the excellence
of its excess.
The warm bodies
shine together
in the darkness,
the hand moves
to the center
of the flesh,
the skin trembles
in happiness
and the soul comes
joyful to the eye −
yes, yes,
that’s what
I wanted,
I always wanted,
I always wanted,
to return
to the body
where I was born.
San José, 1954
In: “Howl and
other poems” (1956)
Sob um Guarda-Chuva
(Leonid Afremov: pintor israelense)
Canção
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano –
sai para fora do
coração
ardendo de pureza –
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o
peso
cansados
e assim temos que
descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar
nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor –
quer esteja eu louco
ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
– não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contido
quando negado:
o peso é demasiado
– deve dar-se
sem nada de volta
assim como o
pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho –
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
San José, 1954
Em: “Uivo e outros poemas” (1956)
Referências:
Em Inglês
GINSBERG, Allen. Song. In: __________. Howl, kaddish and other poems. London, EN: Penguin Classics, 2009,
p. 30-32.
Em Português
GINSBERG, Allen. Canção. In:
__________. Uivo, kaddish e outros
poemas. Seleção, tradução e notas de Claudio Willer. 2. ed. Porto Alegre,
RS: L&PM, 2010. p. 115-117.
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