Tudo funciona, neste poema de Neruda, como um relato do ‘modus operandi’
do desejo, sua origem, suas manifestações à volta do poeta, enquanto regresso
ao bosque primordial, à natureza e aos seus prodígios.
O autor se protege em sua solitária residência, mas não há nada que
possa fazer contra as revelações do sexo na hora em que entardece: a topologia
não lhe é favorável, pois esse ‘grande bosque respiratório e enredado com
grandes flores’ o circunda a todo instante, acenando-lhe com promessas
sedutoras.
J.A.R. – H.C.
Pablo Neruda
(1904-1973)
Caballero Solo
Los jóvenes
homosexuales y las muchachas amorosas,
y las largas viudas
que sufren el delirante insomnio,
y las jóvenes señoras
preñadas hace treinta horas,
y los roncos gatos
que cruzan mi jardín en tinieblas,
como un collar de
palpitantes ostras sexuales
rodean mi residencia
solitaria,
como enemigos
establecidos contra mi alma,
como conspiradores en
traje de dormitorio
que cambiaran largos
besos espesos por consigna.
El radiante verano
conduce a los enamorados
en uniformes
regimientos melancólicos,
hechos de gordas y
flacas y alegres y tristes parejas:
bajo los elegantes
cocoteros, junto al océano y la luna
hay una continua vida
de pantalones y polleras,
un rumor de medias de
seda acariciadas,
y senos femeninos que
brillan como ojos.
El pequeño empleado, después
de mucho,
después del tedio
semanal, y las novelas leídas de noche en cama,
ha definitivamente
seducido a su vecina,
y la lleva a los
miserables cinematógrafos
donde los héroes son
potros o príncipes apasionados,
y acaricia sus
piernas llenas de dulce vello
con sus ardientes y
húmedas manos que huelen a cigarrillo.
Los atardeceres del
seductor y las noches de los esposos
se unen como dos
sábanas sepultándome,
y las horas después
del almuerzo en que los jóvenes estudiantes,
y los jóvenes
estudiantes, y los sacerdotes se masturban,
y los animales
fornican directamente,
y las abejas huelen a
sangre, y las moscas zumban coléricas,
y los primos juegan
extrañamente con sus primas,
y los médicos miran
con furia al marido de la joven paciente,
y las horas de la
mañana en que el profesor, como por descuido,
cumple con su deber
conyugal, y desayuna,
y, más aún, los
adúlteros, que se aman con verdadero amor
sobre lechos altos y
largos como embarcaciones:
seguramente,
eternamente me rodea
este gran bosque
respiratorio y enredado
con grandes flores
como bocas y dentaduras
y negras raíces en
forma de uñas y zapatos.
En: “Residencia en la Tierra”
(1925-1935)
Sedução ao Entardecer
(Pino Daeni: pintor
ítalo-americano)
Cavaleiro Solitário
Os jovens
homossexuais e as moças amorosas,
e as longas viúvas
que sofrem a delirante insônia,
e as jovens senhoras
emprenhadas faz trinta horas,
e os gatos roucos que
cruzam meu jardim em trevas,
como um colar de
palpitantes ostras sexuais
rodeiam minha
residência solitária,
como inimigos
estabelecidos contra a minha alma,
como conspiradores em
trajes de dormitório
que trocaram longos
beijos espessos como instruções.
O radiante verão
conduz os enamorados
em uniformes
regimentos melancólicos,
feitos de gordos e
magros e alegres e tristes casais:
sob os elegantes
coqueiros, junto ao oceano e à lua,
há uma contínua vida
de calças e saias,
um rumor de meias de
seda acariciadas,
e seios femininos que
brilham como olhos.
O pequeno empregado,
depois de muito,
depois do tédio
semanal, e os romances lidos de noite na cama
definitivamente
seduziu sua vizinha,
e a leva para
miseráveis cinemas
onde os heróis são
potros ou príncipes apaixonados,
e acaricia suas
pernas cheias de um doce pelo
com suas ardentes e
úmidas mãos que cheiram a cigarro.
Os entardeceres do
sedutor e as noites dos esposos
unem-se como dois
lençóis me sepultando,
e as horas depois do
almoço em que os jovens estudantes
e as jovens
estudantes, e os sacerdotes se masturbam,
e os animais fornicam
diretamente,
e as abelhas cheiram
a sangue, e as moscas zumbem coléricas,
e os primos brincam
estranhamente com as suas primas,
e os médicos olham
com fúria para o marido da jovem paciente,
e as horas da manhã
em que o professor, como por descuido,
cumpre o seu dever
conjugal e toma o café,
e ainda mais, os
adúlteros que se amam com verdadeiro amor
sobre leitos altos e
longos como embarcações;
seguramente,
eternamente me rodeia
este grande bosque
respiratório e enredado
com grandes flores
como bocas e dentaduras
e negras raízes em
forma de unhas e sapatos.
Em: “Residência na Terra” (1925-1935)
Referências:
Em Espanhol
NERUDA, Pablo. Caballero solo. In:
__________. Antologia poética.
Edição bilíngue. Tradução de Eliane Zagury. 22. ed. Rio de Janeiro, RJ: José
Olympio, 2012. p. 74-76.
Em Português
NERUDA, Pablo. Cavaleiro solitário.
Tradução de Paulo Mendes Campos. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Os melhores poemas de Paulo Mendes Campos. Poemas traduzidos. Seleção
de Guilhermino Cesar. São Paulo, SP: Global, 1990. p. 183-184. (“Os Melhores
Poemas”; v. 22)
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