Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Pablo Neruda - Cavaleiro Solitário

Tudo funciona, neste poema de Neruda, como um relato do ‘modus operandi’ do desejo, sua origem, suas manifestações à volta do poeta, enquanto regresso ao bosque primordial, à natureza e aos seus prodígios.

O autor se protege em sua solitária residência, mas não há nada que possa fazer contra as revelações do sexo na hora em que entardece: a topologia não lhe é favorável, pois esse ‘grande bosque respiratório e enredado com grandes flores’ o circunda a todo instante, acenando-lhe com promessas sedutoras.

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

Caballero Solo

Los jóvenes homosexuales y las muchachas amorosas,
y las largas viudas que sufren el delirante insomnio,
y las jóvenes señoras preñadas hace treinta horas,
y los roncos gatos que cruzan mi jardín en tinieblas,
como un collar de palpitantes ostras sexuales
rodean mi residencia solitaria,
como enemigos establecidos contra mi alma,
como conspiradores en traje de dormitorio
que cambiaran largos besos espesos por consigna.

El radiante verano conduce a los enamorados
en uniformes regimientos melancólicos,
hechos de gordas y flacas y alegres y tristes parejas:
bajo los elegantes cocoteros, junto al océano y la luna
hay una continua vida de pantalones y polleras,
un rumor de medias de seda acariciadas,
y senos femeninos que brillan como ojos.

El pequeño empleado, después de mucho,
después del tedio semanal, y las novelas leídas de noche en cama,
ha definitivamente seducido a su vecina,
y la lleva a los miserables cinematógrafos
donde los héroes son potros o príncipes apasionados,
y acaricia sus piernas llenas de dulce vello
con sus ardientes y húmedas manos que huelen a cigarrillo.

Los atardeceres del seductor y las noches de los esposos
se unen como dos sábanas sepultándome,
y las horas después del almuerzo en que los jóvenes estudiantes,
y los jóvenes estudiantes, y los sacerdotes se masturban,
y los animales fornican directamente,
y las abejas huelen a sangre, y las moscas zumban coléricas,
y los primos juegan extrañamente con sus primas,
y los médicos miran con furia al marido de la joven paciente,
y las horas de la mañana en que el profesor, como por descuido,
cumple con su deber conyugal, y desayuna,
y, más aún, los adúlteros, que se aman con verdadero amor
sobre lechos altos y largos como embarcaciones:
seguramente, eternamente me rodea
este gran bosque respiratorio y enredado
con grandes flores como bocas y dentaduras
y negras raíces en forma de uñas y zapatos.

En: “Residencia en la Tierra” (1925-1935)

Sedução ao Entardecer
(Pino Daeni: pintor ítalo-americano)

Cavaleiro Solitário

Os jovens homossexuais e as moças amorosas,
e as longas viúvas que sofrem a delirante insônia,
e as jovens senhoras emprenhadas faz trinta horas,
e os gatos roucos que cruzam meu jardim em trevas,
como um colar de palpitantes ostras sexuais
rodeiam minha residência solitária,
como inimigos estabelecidos contra a minha alma,
como conspiradores em trajes de dormitório
que trocaram longos beijos espessos como instruções.

O radiante verão conduz os enamorados
em uniformes regimentos melancólicos,
feitos de gordos e magros e alegres e tristes casais:
sob os elegantes coqueiros, junto ao oceano e à lua,
há uma contínua vida de calças e saias,
um rumor de meias de seda acariciadas,
e seios femininos que brilham como olhos.

O pequeno empregado, depois de muito,
depois do tédio semanal, e os romances lidos de noite na cama
definitivamente seduziu sua vizinha,
e a leva para miseráveis cinemas
onde os heróis são potros ou príncipes apaixonados,
e acaricia suas pernas cheias de um doce pelo
com suas ardentes e úmidas mãos que cheiram a cigarro.

Os entardeceres do sedutor e as noites dos esposos
unem-se como dois lençóis me sepultando,
e as horas depois do almoço em que os jovens estudantes
e as jovens estudantes, e os sacerdotes se masturbam,
e os animais fornicam diretamente,
e as abelhas cheiram a sangue, e as moscas zumbem coléricas,
e os primos brincam estranhamente com as suas primas,
e os médicos olham com fúria para o marido da jovem paciente,
e as horas da manhã em que o professor, como por descuido,
cumpre o seu dever conjugal e toma o café,
e ainda mais, os adúlteros que se amam com verdadeiro amor
sobre leitos altos e longos como embarcações;
seguramente, eternamente me rodeia
este grande bosque respiratório e enredado
com grandes flores como bocas e dentaduras
e negras raízes em forma de unhas e sapatos.

Em: “Residência na Terra” (1925-1935)

Referências:

Em Espanhol

NERUDA, Pablo. Caballero solo. In: __________. Antologia poética. Edição bilíngue. Tradução de Eliane Zagury. 22. ed. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2012. p. 74-76.

Em Português

NERUDA, Pablo. Cavaleiro solitário. Tradução de Paulo Mendes Campos. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Os melhores poemas de Paulo Mendes Campos. Poemas traduzidos. Seleção de Guilhermino Cesar. São Paulo, SP: Global, 1990. p. 183-184. (“Os Melhores Poemas”; v. 22)

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