Ontem, a apologia do trabalho. Hoje, em sentido inverso, Mendes julga-o “inútil”,
como a ratificar o Eclesiastes (2: 11): “E olhei para todas as obras que
fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, labutando, tinha
feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum
havia debaixo do sol”.
Necessária, mesmo, é a poesia, como afirmava o cronista capixaba Rubem
Braga, porque universal e presente na vastidão de formas e elementos manifestados
nos mares, nos ares e, ainda, nas massas continentais...
J.A.R. – H.C.
Murilo Mendes
(1901-1975)
O Rito Geral
Guardião dos sonhos,
levantei a aurora,
Advertindo os homens
do trabalho inútil.
Tangia os sinos do
universo-igreja,
Convocando formas e
elementos
Para o ofício geral
da poesia.
Vieram a mim os
peixes das águas primitivas,
Vieram as enormes
borboletas-fadas
Que cobriam de azul o
abismo vazio.
Vieram as
inspiradoras dos poetas desde o início,
Veio a dália gigante
de mil braços.
Veio o Filho do homem
dançando sobre as ondas.
Eu dialoguei com
eles,
Aprendi a história de
todos
E todos aprenderam
minha história
Que levaram para o
outro lado da terra,
Para o fundo do mar e
o céu.
Mundo público,
Eu te conservo pela
poesia universal.
Em: “Livro Primeiro: As Metamorfoses”
(1938)
Papoulas em tons pêssego e azul
(Carol Cavalaris:
pintora norte-americana)
Referência:
MENDES, Murilo. O rito geral. In:
__________. As metamorfoses.
Prefácio de Fábio de Souza Andrade. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2002. p. 60.
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