Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de outubro de 2016

Murilo Mendes - O Rito Geral

Ontem, a apologia do trabalho. Hoje, em sentido inverso, Mendes julga-o “inútil”, como a ratificar o Eclesiastes (2: 11): “E olhei para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, labutando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol”.

Necessária, mesmo, é a poesia, como afirmava o cronista capixaba Rubem Braga, porque universal e presente na vastidão de formas e elementos manifestados nos mares, nos ares e, ainda, nas massas continentais...

J.A.R. – H.C.

Murilo Mendes
(1901-1975)

O Rito Geral

Guardião dos sonhos, levantei a aurora,
Advertindo os homens do trabalho inútil.
Tangia os sinos do universo-igreja,
Convocando formas e elementos
Para o ofício geral da poesia.

Vieram a mim os peixes das águas primitivas,
Vieram as enormes borboletas-fadas
Que cobriam de azul o abismo vazio.
Vieram as inspiradoras dos poetas desde o início,
Veio a dália gigante de mil braços.
Veio o Filho do homem dançando sobre as ondas.

Eu dialoguei com eles,
Aprendi a história de todos
E todos aprenderam minha história
Que levaram para o outro lado da terra,
Para o fundo do mar e o céu.

Mundo público,
Eu te conservo pela poesia universal.

Em: “Livro Primeiro: As Metamorfoses” (1938)

Papoulas em tons pêssego e azul
(Carol Cavalaris: pintora norte-americana)

Referência:

MENDES, Murilo. O rito geral. In: __________. As metamorfoses. Prefácio de Fábio de Souza Andrade. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2002. p. 60.

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