O poeta se congratula com tudo o que lhe aconteceu na vida, ciente de
que o mundo assomou-lhe como uma bela verdade, apesar de todos os eventuais
contratempos, a derivar de uma idade já avançada, com os olhos envelhecidos e fatigado
amor.
Chegar longe em anos acumulados bem pode ser dádiva dos céus, se o ser
humano for capaz de viver em equilíbrio com os pares, ao amparo de experiências
positivas, de modo a satisfazer-se com o que conseguiu plantar sobre a terra,
em cotejo ao que projetara de início.
J.A.R. – H.C.
Francisco Brines
(n. 1932)
Cuando yo aún soy la vida
A Justo Jorge Padrón
La vida me rodea,
como en aquellos años
ya perdidos, con el
mismo esplendor
de un mundo eterno.
La rosa cuchillada
de la mar, las
derribadas luces
de los huertos,
fragor de las palomas
en el aire, la vida
en torno a mí,
cuando yo aún soy la
vida.
Con el mismo
esplendor, y envejecidos ojos,
y un amor fatigado.
¿Cuál será la
esperanza? Vivir aún;
y amar, mientras se
agota el corazón,
un mundo fiel, aunque
perecedero.
Amar el sueño roto de
la vida
y, aunque no pudo
ser, no maldecir
aquel antiguo engaño
de lo eterno.
Y el pecho se
consuela, porque sabe
que el mundo pudo ser
una bella verdad.
Em: “Aún no” (1971)
Pombos no Telhado
(Joseph Crawhall:
pintor inglês)
Quando eu ainda sou a vida
A Justo Jorge Padrón
A vida me rodeia,
como naqueles anos
já perdidos, com o
mesmo esplendor
de um mundo eterno. A
rosa cutilada
do mar, as decaídas
luzes
dos hortos, o fragor
das pombas
no ar, a vida em
torno de mim,
quando eu ainda sou a
vida.
Com o mesmo
esplendor, e envelhecidos olhos,
e um amor fatigado.
Qual será a
esperança? Viver ainda;
e amar, enquanto o
coração se esgota,
um mundo fiel, embora
perecível.
Amar o sonho partido
da vida
e, ainda que não pôde
ser, não maldizer
aquele antigo engano
do eterno.
E o peito se consola,
porque sabe
que o mundo pôde ser
uma bela verdade.
Em: “Ainda não” (1971)
Referência:
BRINES, Francisco. Cuando yo aún soy la
vida. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Selección, estudio y notas). Poesía española contemporánea: historia
y antologia (1939-1980). 1. ed. Madrid, ES: Alhambra, 1981. p. 293-294.
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