Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 22 de outubro de 2016

Francisco Brines - Quando eu ainda sou a vida

O poeta se congratula com tudo o que lhe aconteceu na vida, ciente de que o mundo assomou-lhe como uma bela verdade, apesar de todos os eventuais contratempos, a derivar de uma idade já avançada, com os olhos envelhecidos e fatigado amor.

Chegar longe em anos acumulados bem pode ser dádiva dos céus, se o ser humano for capaz de viver em equilíbrio com os pares, ao amparo de experiências positivas, de modo a satisfazer-se com o que conseguiu plantar sobre a terra, em cotejo ao que projetara de início.

J.A.R. – H.C.

Francisco Brines
(n. 1932)

Cuando yo aún soy la vida

A Justo Jorge Padrón

La vida me rodea, como en aquellos años
ya perdidos, con el mismo esplendor
de un mundo eterno. La rosa cuchillada
de la mar, las derribadas luces
de los huertos, fragor de las palomas
en el aire, la vida en torno a mí,
cuando yo aún soy la vida.
Con el mismo esplendor, y envejecidos ojos,
y un amor fatigado.

¿Cuál será la esperanza? Vivir aún;
y amar, mientras se agota el corazón,
un mundo fiel, aunque perecedero.
Amar el sueño roto de la vida
y, aunque no pudo ser, no maldecir
aquel antiguo engaño de lo eterno.
Y el pecho se consuela, porque sabe
que el mundo pudo ser una bella verdad.

Em: “Aún no” (1971)

Pombos no Telhado
(Joseph Crawhall: pintor inglês)

Quando eu ainda sou a vida

A Justo Jorge Padrón

A vida me rodeia, como naqueles anos
já perdidos, com o mesmo esplendor
de um mundo eterno. A rosa cutilada
do mar, as decaídas luzes
dos hortos, o fragor das pombas
no ar, a vida em torno de mim,
quando eu ainda sou a vida.
Com o mesmo esplendor, e envelhecidos olhos,
e um amor fatigado.

Qual será a esperança? Viver ainda;
e amar, enquanto o coração se esgota,
um mundo fiel, embora perecível.
Amar o sonho partido da vida
e, ainda que não pôde ser, não maldizer
aquele antigo engano do eterno.
E o peito se consola, porque sabe
que o mundo pôde ser uma bela verdade.

Em: “Ainda não” (1971)

Referência:

BRINES, Francisco. Cuando yo aún soy la vida. In: RUBIO, Fanny; FALCÓ, José Luis (Selección, estudio y notas). Poesía española contemporánea: historia y antologia (1939-1980). 1. ed. Madrid, ES: Alhambra, 1981. p. 293-294.

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