Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Arthur Rimbaud - Paciência

Neste poema de “Les Illuminations” (“As Iluminações”), cuja versão primeira possuía por título “Bannières de Mai” (“Bandeiras de Maio”), Rimbaud interroga a Natureza para saber se dela sempre obterá provisão para saciar a sua fome e sede.

Da celebração do verão da primeira estrofe, Rimbaud passa à sua rejeição na segunda, ou melhor, a uma visão dramática postulada por um sacrifício aparentemente simbólico. Esperar, para quê? O poeta julga que seria preferível morrer!

J.A.R. – H.C.

Arthur Rimbaud
(1854-1891)

Patience

D’un été

Aux branches claires des tilleuls
Meurt un maladif hallali.
Mais des chansons spirituelles
Voltigent partout les groseilles.
Que notre sang rie en nos veines,
Voici s’enchevêtrer les vignes.
Le ciel est joli comme un ange,
Azur et Onde communient.
Je sors! Si un rayon me blesse,
Je succomberai sur la mousse.

Qu’on patiente et qu’on s’ennuie,
C’est si simple!… Fi de ces peines.
Je veux que l’été dramatique
Me lie à son char de fortune.
Que par toi beaucoup, ô Nature,
– Ah! moins nul et moins seul! – je meure.
Au lieu que les bergers, c’est drôle,
Meurent à peu près par le monde.

Je veux bien que les Saisons m’usent.
À toi, Nature! je me rends,
Et ma faim et toute ma soif;
Et, s’il te plaît, nourris, abreuve.
Rien de rien ne m’illusionne:
C’est rire aux parents qu’au soleil;
Mais moi je ne veux rire à rien,
Et libre soit cette infortune.

“Les Illuminations” (1886)

Velejando com o Sol 2
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Paciência

De um verão

Nos ramos claros das tílias
expira um frágil chio de caça.
Porém cânticos espirituais
Revoluteiam por entre as groselhas.
Que ria o sangue em nossas veias,
Pois já se emaranham as videiras.
O céu está deslumbrante como um anjo,
Conjugam-se o azul e o agito do mar.
Eu saio! Se um raio me atingir,
Sucumbirei sobre a espuma.

Ser paciente e entediar-se
É bastante simples. Fora meus pesares.
Quero que um dramático verão
Me ate à sua carruagem improvisada.
Que sobretudo por ti, ó Natura,
– Ah! nem inútil e nem sozinho! – eu morra.
Em vez dos pastores que, tão estranho,
Morrem por quase todo o mundo.

Muito anseio que as estações me usem.
A ti, Natura!, eu me rendo,
Com toda a minha fome e sede;
E, se te apraz, alimentado, hidratado.
Já nada de nada me ilude:
Rir ao sol é como rir aos pais,
Mas eu não quero rir à toa,
E livre seja desse infortúnio.

“As Iluminações” (1886)

Referência:

RIMBAUD, Arthur. Patience. In: ARLAND, Marcel (Choix et commentaires). Anthologie de la poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960. p. 670-671.

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