Neste poema de “Les Illuminations” (“As Iluminações”), cuja versão
primeira possuía por título “Bannières de Mai” (“Bandeiras de Maio”), Rimbaud
interroga a Natureza para saber se dela sempre obterá provisão para saciar a
sua fome e sede.
Da celebração do verão da primeira estrofe, Rimbaud passa à sua rejeição
na segunda, ou melhor, a uma visão dramática postulada por um sacrifício
aparentemente simbólico. Esperar, para quê? O poeta julga que seria preferível
morrer!
J.A.R. – H.C.
Arthur Rimbaud
(1854-1891)
Patience
D’un été
Aux branches claires des tilleuls
Meurt un maladif hallali.
Mais des chansons spirituelles
Voltigent partout les groseilles.
Que notre sang rie en nos veines,
Voici s’enchevêtrer les vignes.
Le ciel est joli comme un ange,
Azur et Onde communient.
Je sors! Si un rayon me blesse,
Je succomberai sur la
mousse.
Qu’on patiente et
qu’on s’ennuie,
C’est si simple!… Fi
de ces peines.
Je veux que l’été
dramatique
Me lie à son char de
fortune.
Que par toi beaucoup,
ô Nature,
– Ah! moins nul et
moins seul! – je meure.
Au lieu que les
bergers, c’est drôle,
Meurent à peu près
par le monde.
Je veux bien que les Saisons
m’usent.
À toi, Nature! je me
rends,
Et ma faim et toute ma soif;
Et, s’il te plaît,
nourris, abreuve.
Rien de rien ne m’illusionne:
C’est rire aux
parents qu’au soleil;
Mais moi je ne veux
rire à rien,
Et libre soit cette infortune.
“Les Illuminations”
(1886)
Velejando com o Sol 2
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
Paciência
De um verão
Nos ramos claros das
tílias
expira um frágil chio
de caça.
Porém cânticos
espirituais
Revoluteiam por entre
as groselhas.
Que ria o sangue em
nossas veias,
Pois já se emaranham
as videiras.
O céu está deslumbrante
como um anjo,
Conjugam-se o azul e o
agito do mar.
Eu saio! Se um raio
me atingir,
Sucumbirei sobre a
espuma.
Ser paciente e
entediar-se
É bastante simples.
Fora meus pesares.
Quero que um
dramático verão
Me ate à sua
carruagem improvisada.
Que sobretudo por ti,
ó Natura,
– Ah! nem inútil e
nem sozinho! – eu morra.
Em vez dos pastores
que, tão estranho,
Morrem por quase todo
o mundo.
Muito anseio que as
estações me usem.
A ti, Natura!, eu me
rendo,
Com toda a minha fome
e sede;
E, se te apraz, alimentado,
hidratado.
Já nada de nada me
ilude:
Rir ao sol é como rir
aos pais,
Mas eu não quero rir
à toa,
E livre seja desse infortúnio.
“As Iluminações” (1886)
Referência:
RIMBAUD, Arthur. Patience. In: ARLAND, Marcel (Choix et
commentaires). Anthologie de la
poésie française. Nouvelle édition revue et augmentée. Paris (FR): Éditions Stock, 1960.
p. 670-671.
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