O poeta diz-se cansado, embora reconheça que mais cansado seria o estar
morto, para logo após concluir, em última instância, que está cansado do estar
cansado. Como o cansaço tem “penas” que jamais chegam a voar, nada se alcança,
por conseguinte, em andar a se lamentar do cansaço.
Por isso Cernuda pega da pena e continua a produzir seus escritos, mesmo
que seja para regressar àquilo sobre o que já se pronunciou, como um louro, ou
como tudo que se desprende e logo volta de costas.
J.A.R. – H.C.
Luis Cernuda
(1902-1963)
Estoy Cansado
Estar cansado tiene
plumas,
tiene plumas
graciosas como un loro,
plumas que desde
luego nunca vuelan,
mas balbucean igual
que loro.
Estoy cansado de las
casas,
prontamente en ruinas
sin un gesto;
estoy cansado de las
cosas,
con un latir de seda
vueltas luego de espaldas.
Estoy cansado de
estar vivo,
aunque más cansado
sería el estar muerto;
estoy cansado del
estar cansado
entre plumas ligeras
sagazmente,
plumas del loro aquel
tan familiar o triste,
el loro aquel del
siempre estar cansado.
En: ‘Un río, un
amor’ (1929)
Natureza-Morta com Papagaio Verde
(Severin Roesen:
pintor alemão)
Estou Cansado
Estar cansado tem
penas,
tem penas graciosas
como um louro,
penas que certamente
nunca voam,
mas balbuciam tal
como um louro.
Estou cansado das
casas,
prontamente em ruínas
sem um gesto;
estou cansado das
coisas,
com um latejar de
seda, voltas depois de costas.
Estou cansado de
estar vivo,
ainda que mais
cansado seria o estar morto;
estou cansado do
estar cansado
entre penas leves,
sagazmente,
penas do louro,
aquele tão familiar ou triste,
o louro, aquele do
sempre estar cansado.
Em: “Um rio, um amor” (1929)
Referência:
CERNUDA, Luis. Estoy cansado. In:
VARIOS. Edición, introducción, notas, comentarios y apéndice de Esperanza
Ortega. Antología de la generación del
27. Madrid, ES: Anaya, 1987. p. 91. (Biblioteca Didáctica Anaya; v. 23)
❁
Muito bom poema.
ResponderExcluir