Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 1 de outubro de 2016

Luis Cernuda - Estou Cansado

O poeta diz-se cansado, embora reconheça que mais cansado seria o estar morto, para logo após concluir, em última instância, que está cansado do estar cansado. Como o cansaço tem “penas” que jamais chegam a voar, nada se alcança, por conseguinte, em andar a se lamentar do cansaço.

Por isso Cernuda pega da pena e continua a produzir seus escritos, mesmo que seja para regressar àquilo sobre o que já se pronunciou, como um louro, ou como tudo que se desprende e logo volta de costas.

J.A.R. – H.C.

Luis Cernuda
(1902-1963)

Estoy Cansado

Estar cansado tiene plumas,
tiene plumas graciosas como un loro,
plumas que desde luego nunca vuelan,
mas balbucean igual que loro.

Estoy cansado de las casas,
prontamente en ruinas sin un gesto;
estoy cansado de las cosas,
con un latir de seda vueltas luego de espaldas.

Estoy cansado de estar vivo,
aunque más cansado sería el estar muerto;
estoy cansado del estar cansado
entre plumas ligeras sagazmente,
plumas del loro aquel tan familiar o triste,
el loro aquel del siempre estar cansado.

En: ‘Un río, un amor’ (1929)

Natureza-Morta com Papagaio Verde
(Severin Roesen: pintor alemão)

Estou Cansado

Estar cansado tem penas,
tem penas graciosas como um louro,
penas que certamente nunca voam,
mas balbuciam tal como um louro.

Estou cansado das casas,
prontamente em ruínas sem um gesto;
estou cansado das coisas,
com um latejar de seda, voltas depois de costas.

Estou cansado de estar vivo,
ainda que mais cansado seria o estar morto;
estou cansado do estar cansado
entre penas leves, sagazmente,
penas do louro, aquele tão familiar ou triste,
o louro, aquele do sempre estar cansado.

Em: “Um rio, um amor” (1929)

Referência:

CERNUDA, Luis. Estoy cansado. In: VARIOS. Edición, introducción, notas, comentarios y apéndice de Esperanza Ortega. Antología de la generación del 27. Madrid, ES: Anaya, 1987. p. 91. (Biblioteca Didáctica Anaya; v. 23)

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