Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Wallace Stevens - Último Solilóquio do Amante Interior

Temos aqui mais um poema, como tantos os que Stevens legou à posteridade, no qual o poeta se debruça sobre o tema da vida, de suas formas e, caso existam, suas finalidades: volta-se ele ao lugar interior, dentro de nós, no qual se manifestam o pensamento, o conhecimento e a imaginação.

O fluxo da experiência consciente e o discurso interno sobre tal experiência povoam o que Stevens concebe como “mente central”, capaz até mesmo de idealizar a figura divina, enquanto fundamento do eterno a amparar todas os portentos que nos rodeiam.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

Final Soliloquy of the Interior Paramour

Light the first light of evening, as in a room
In which we rest and, for small reason, think
The world imagined is the ultimate good.

This is, therefore, the intensest rendezvous.
It is in that thought that we collect ourselves,
Out of all the indifferences, into one thing:

Within a single thing, a single shawl
Wrapped tightly round us, since we are poor, a warmth,
A light, a power, the miraculous influence.

Here, now, we forget each other and ourselves.
We feel the obscurity of an order, a whole,
A knowledge, that which arranged the rendezvous

Within its vital boundary, in the mind.
We say God and the imagination are one…
How high that highest candle lights the dark.

Out of this same light, out of the central mind,
We make a dwelling in the evening air,
In which being there together is enough. 

Casa na Colina
(Leonid Afremov: pintor israelense)

Último Solilóquio do Amante Interior

Acende a primeira luz noturna, como num quarto
No qual repousamos e, por muito pouco, cogitamos
Que o mundo imaginado é o bem supremo.

Este é, por conseguinte, o mais intenso encontro.
Tal é o pensamento em que nos recolhemos,
Longe de todas as indiferenças, em uma coisa:

Em meio a uma única coisa, uma única manta
A nos cingir firmemente, pois pobres somos, um calor,
Uma luz, um poder, a influência milagrosa.

Aqui, agora, podemos esquecer os outros e nós mesmos.
Sentimos a obscuridade de uma ordem, uma totalidade,
Um conhecimento, que organizou o encontro

Dentro de suas fronteiras vitais, na mente.
Nós afirmamos que Deus e a imaginação são um...
Quão elevada é essa vela que tão alta alumia a escuridão.

Fora desta mesma luz, fora da mente central,
Erigimos nossa morada ao ar noturno,
Onde lá estarmos os dois juntos é o quanto basta.

Referência:

STEVENS, Wallace. Final soliloquy of the interior paramour. In: __________. The collected poems. Eleventh printing. New York, NY: Alfred A. Knopf Inc., 1971. p. 524.

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