Em novembro, a poetisa experimenta uma sensação de que, mesmo estando
tudo em seu lugar, há qualquer coisa de incógnito, a perscrutar inopinadamente
as instâncias do desconhecido, como uma ave ou um pássaro irrequieto.
As sensações experimentadas pelo eu lírico antecipam a chegada do
inverno, ainda no decurso do outono, quando as folhas das árvores amarelecem e
caem e o espírito tende a recolher-se em suas leituras, ali de onde emanam memórias
enregeladas, capazes de entorpecer o coração.
J.A.R. – H.C.
Marie-Claire Bancquart
(n. 1932)
Je Marche dans la Solitude des Livres
Je marche dans la
solitude des livres:
mon coeur gèle
avec ces mémoires
gelées.
La vent tape au volet.
Novembre.
Il a fallu toute une
vie pour que le craquement du bois
suscite une attente essentielle.
Au-delà du jardin
au-delà du temps
devant nous
il y a les bogues
tombées de châtaignes
le feu des feuilles
dans la brume
les fenêtres violettes.
Exactement novembre.
Toute chose à sa
place.
Cependant l’inconnu
est proche
comme un oiseau
inquiet.
Aquarela
(Joanne Boon Thomas:
artista inglesa)
Caminho pela Solidão dos Livros
Caminho pela solidão
dos livros:
meu coração congela
com essas gélidas
memórias.
O vento bate na
persiana.
Novembro.
Levou toda uma vida
para o rangido da madeira
suscitar uma expectativa
essencial.
Além do jardim
além do tempo antes
de nós
existem os ouriços
derribados de castanhas
o fogo das folhas na
bruma
as janelas violetas.
Exatamente novembro.
Cada coisa em seu
lugar.
Ainda assim o desconhecido
está próximo
como um pássaro inquieto.
Referência:
BANCQUART, Marie-Claire. Je marche dans la solitude des livres. In:
CAWS, Mary Ann (Ed.). The Yale anthology
of twentieth-century french poetry. A bilingual anthology (French-English).
New Haven & London: Yale University Press, 2004. p. 452.
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