Tristeza a permear a mente de Manuel Alegre. Contradição?! (rs). Brincadeira
à parte, o que o poeta de fato retrata é o sentimento que dá fluxo aos
vaticínios com os quais se instrumentaliza o Fado, para ir bem fundo na alma
lusitana...
E para acompanhar tamanha tristeza, nada melhor do que um fado bem
popular – “Tudo isto é Fado” – na voz de uma intérprete lá de Belém do Pará,
ela própria proveniente de uma família de portugueses: Fafá.
J.A.R. – H.C.
Manuel Alegre
(n. 1936)
Soneto
É preciso saber
porque se é triste
é preciso dizer esta
tristeza
que nós calamos
tantas vezes mas existe
tão inútil em nós tão
portuguesa.
É preciso dizê-la é
preciso despi-la
é preciso matá-la
perguntando
porquê esta tristeza
como e quando
e porquê tão submissa
tão tranquila.
Esta tristeza que nos
prende em sua teia
esta tristeza aranha
esta negra tristeza
Que não nos mata nem
nos incendeia
Antes em nós semeia
esta vileza
e envenena o nascer
de qualquer ideia.
É preciso matar esta
tristeza.
Em: “Praça da Canção” (1965)
Tudo isto é Fado
(Frederico Carvalho e
Aníbal Nazaré)
Interpretação de Fafá
de Belém
Referência:
ALEGRE, Manuel. Soneto. In: __________. Corazón polar y otros poemas: antología poética. Edición bilingüe.
Prólogo de João de Melo. Traducción al español de María Tecla Portela Carreiro.
Madrid, ES: Huerga y Fierro Editores, 2003. p. 72.
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